Papa perdoa ex-mordomo, que já é um homem livre

Bento XVI concedeu a liberdade a Paolo Gabriele que estava preso por “furto agravado”.

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Imagem divulgada pelo Vaticano do encontro do Papa com o ex-mordomo na prisão OSSERVATORE ROMANO/AFP

O Papa Bento XVI decretou um perdão para o seu antigo mordomo, Paolo Gabriele, que tinha sido condenado em Outubro por ter divulgado documentos secretos do Vaticano alegadamente relacionados com corrupção na Santa Sé.

O Vaticano revelou que, num “acto muito paternal”, o Papa visitou Gabriele na prisão do Vaticano neste sábado de manhã para lhe dar conta pessoalmente do perdão. O ex-mordomo foi logo de seguida libertado e viajou para junto da família, revelou o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi.

Gabriele foi condenado por furto agravado no dia 6 de Outubro e estava a cumprir uma sentença de 18 meses numa cela da prisão do Vaticano. Tinha sido preso em Maio depois de a polícia da Santa Sé ter descoberto que muitos documentos que tinha na sua posse haviam sido roubados do escritório do Papa.

Terá sido Gabriele que os passou para alguns jornalistas num caso que ficou conhecido como “Vatileaks” e que se transformou num enorme embaraço para o pontificado de Bento XVI.

Lombardi disse ainda que o Papa também tinha perdoado um segundo empregado do Vaticano, Claudio Sciarpelletti, que tinha sido condenado por ter ajudado Gabriele.

No comunicado oficial, o padre Lombardi indica que Gabriele não poderá retomar o seu antigo trabalho nem continuar a residir no Vaticano”. No entanto, a Santa Sé irá ajudá-lo “a retomar uma vida serena com a sua família”.

No total, o ex-mordomo passou 117 dias em detenção. Agora, em vésperas de Natal, é um homem livre. “Tratou-se de um acto muito paternal do Santo Padre para com uma pessoa com quem o papa partilhou durante muitos anos uma proximidade de vida”, explicou Lombardi.

"Paoletto"

A AFP recorda que este leigo, de 46 anos, estava ao serviço de Bento XVI desde 2006. Casado e pai de três filhos, “Paoletto” era descrito como um homem muito religiosos e discreto, sem grandes iniciativas pessoas no seu trabalho quotidiano.

A família Gabriele era bem conhecida e apreciada entre os 594 cidadãos do estado mais pequeno do mundo.

Encarregado de preparar os hábitos de cerimónia de Bento XVI, “Paoletto” ajudava o Santo Padre a vestir-se todas as manhãs. Às vezes almoçava à mesa do Papa. Era nessas ocasiões que “ele me fazia perguntas sobre coisas sobre as quais ele devia estar informado” disse o ex-mordomo durante o julgamento.

Só que Gabriele também se dedicava a fotocopiar dezenas de documentos ultra-secretos que depois passava para o exterior.

O Papa, que o amava como a um filho, ficou profundamente triste pela sua traição, segundo colaboradores próximos do Santo Padre.

No final do julgamento, Gabriele disse em tribunal: “a coisa que eu sinto mais profundamente, é a convicção de ter agido por amor exclusivo, direi mesmo visceral, à Igreja de Cristo e ao seu líder na terra”

“Não me considero um ladrão”, insistiu Gabriele que sempre disse ter feito o que fez para denunciar as práticas mafiosas e o “reino da hipocrisia” no Vaticano, alegando que “o Papa não estava a ser correctamente informado” sobre aquilo que se passava à sua volta.

O que saltou para o exterior do “Vatileaks” foram páginas e páginas de jornais e um livro de Gianluigi Nuzzi, que faz, entre outras coisas, a exposição de rivalidades entre figuras de topo do Vaticano, insinua as ligações perigosas do Banco do Vaticano e revela pormenores sobre a loja maçónica P2.
 

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