Futebol no Butão é com o patrocínio da Coca-Cola

Há uma Liga profissional a iniciar-se num dos países mais mal classificados no ranking da FIFA. Neste reino dos Himalaias, o desenvolvimento mede-se, não pelo Produto Interno Bruto, mas pela Felicidade Interna Bruta.

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Na "Outra Final" de 2002, houve meia taça para cada equipa DR

A 30 de Junho de 2002, Brasil e Alemanha defrontaram-se no Estádio Internacional de Yokohama para disputar entre si o título de campeão mundial de futebol. Nessa final, dois golos de Ronaldo deram o pentacampeonato à selecção brasileira, desde sempre na elite do futebol mundial. No mesmo dia, em Thimphu, capital do Butão, pequeno país localizado nos Himalaias, defrontavam-se as duas piores selecções do ranking FIFA. Por iniciativa de uma empresa da Holanda (selecção que não se qualificara para o Mundial 2002), Butão e Montserrat jogaram no campo quase pelado do Estádio de Changlimithang, a 2316 metros de altitude.

O jogo ficou imortalizado no documentário A Outra Final e foi a selecção da casa que escapou ao estatuto de pior equipa do mundo, vencendo por 4-0 — mas a taça foi dividida e cada equipa recebeu metade do troféu. Wangyel Dorji teve os seus 15’ de fama ao marcar três dos quatro golos para aquela que seria a primeira vitória da selecção do Butão (que só conseguiu duas, mais quatro empates, em 44 jogos oficiais, segundo as contas da FIFA). Com esse triunfo, a selecção do Butão deu um salto de quatro lugares na hierarquia do futebol mundial, mas, dez anos depois, continua no fundo da tabela.

É uma das três selecções que ocupam o último lugar deste ranking (que engloba 209 equipas) sem quaisquer pontos, a par da europeia São Marino e da caraíba ilhas Turcs e Caicos — curiosamente, a equipa feminina está bem melhor, ocupando o 128.º lugar, com 48 selecções atrás de si. O melhor que a selecção masculina do Butão conseguiu no ranking FIFA foi um 187.º em 2008.

O tiro com arco é a modalidade nacional e, até Londres 2012, foi o único desporto em que o país teve atletas nos Jogos Olímpicos — na capital britânica teve uma atleta no tiro de precisão. O futebol não é a prioridade desportiva do Butão e apenas surgiu no país durante os anos 50 do século passado como modalidade escolar. Foi a partir daqui que se começaram a formar campeonatos amadores e uma federação de futebol no país só surgiu em 1983, filiando-se na FIFA apenas em 2000.

Este mês de Dezembro marcou o início da primeira Liga nacional do Butão (antes só existiam torneios regionais), com o patrocínio de uma multinacional, a Coca-Cola (que, para já, vai apoiar a Liga durante três anos), e que conta com a participação de seis equipas. “Em Dezembro, preparem-se para a explosão” é o que diz o vídeo da promoção do torneio, que já teve o seu pontapé de saída. O Drukpol FC venceu o Ugyen Academy por 2-1, num jogo que marcou a inauguração do relvado artificial do Estádio de Changlimitang, que custou cerca de 900 mil dólares, pagos na íntegra pela FIFA.

É assim que está o futebol no reino do Butão, onde o desenvolvimento se mede, não pelo Produto Interno Bruto, mas pela Felicidade Interna Bruta.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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