Três em cada dez crianças em infantários têm asma

Estudo investiga problemas de saúde associados a deficiente ventilação em estabelecimentos com crianças dos zero aos cinco anos.

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o que não se deve fazer, e se faz, acrescenta, é voltar a “sentamo-nos à secretária e repetir o contexto da escola em casa”, defende uma das mães que respondeu ao PÚBLICO Sérgio Azenha

Três em cada dez crianças que frequentam infantários têm asma, segundo um estudo que avaliou os impactos da ventilação em mais de 40 instituições de Lisboa e Porto.

A investigação, realizada por peritos da Faculdade de Ciências Médicas e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), está quase em fase de conclusão e os primeiros resultados obtidos vão ser discutidos no próximo mês num seminário em Lisboa.

Em entrevista à agência Lusa, os investigadores Nuno Neuparth e João Vaz revelaram que uma das conclusões é a necessidade de melhorar as formas de ventilação dos espaços.

Quando as janelas das salas dos infantários se encontram encerradas, a qualidade do ar tem níveis piores, mostrando maior saturação, nalguns casos com níveis “relativamente elevados”. Esta realidade foi testada medindo os níveis de CO2 (dióxido de carbono) que, por seu lado, surgem também associados a manifestações de asma, como a pieira.

“Quanto maior o nível de CO2, maior é o nível de pieira”, explicou Nuno Neuparth, alergologista e professor na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, adiantando que o CO2 foi utilizado apenas como indicador de viciação do ar ambiente.

Para atestar a condição de saúde das crianças, os investigadores começaram por realizar questionários às famílias dos meninos das 46 instituições particulares de solidariedade social de Lisboa e Porto, todas frequentadas por menores dos zero aos cinco anos.

Foram os resultados destes inquéritos que permitiram concluir que quase 30% destas crianças apresentam asma, tendo tido pelo menos um episódio de pieira no último ano.

Esta prevalência é maior do que a registada na população geral, refere Nuno Neuparth, lembrando que um estudo mundial com uma componente portuguesa demonstrou uma prevalência de 15% em adolescentes de 13 e 14 anos.

Depois de analisadas crianças e condições ambientais nos 46 infantários, o estudo centrou-se, numa segunda fase, em 20 instituições, tendo sido escolhidas as que apresentaram piores e melhores níveis de viciação do ar.

Além da importância de ter sistemas de ventilação nos edifícios, os investigadores dizem que a alteração de procedimentos nas creches é importante, apontando como exemplo a abertura das portas das salas durante os intervalos das actividades.

Este projecto, que recebeu 180 mil euros de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, vai culminar com um livro com recomendações para os infantários.

“Estes meninos estão mais expostos a infecções virais do que os que não estão no infantário. Podemos ajudar a resolver o problema recomendando que se melhorem as condições de vida nas creches. Certos de que para melhorar a qualidade do ar interior, é preciso melhorar a ventilação”, resume Nuno Neuparth.

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