A Vida de Pi

Não há muito que Ang Lee possa (ou queira) fazer para atenuar a desmesurada beatice da xaropada aeroportuária (o romance homónimo, de Yann Martel) que A Vida de Pi adapta. Mas faz qualquer coisa minimamente curiosa com as 3D: levando-as para um cenário “chato” (no sentido geométrico do termo), o alto mar, onde as D são só 2 - uma linha horizontal, outra vertical - e não há muita coisa para pôr “em relevo”, nem grandes pretextos para as habituais sobredosagens de “informação visual”. Lee inventa, e a ironia também será dele, as “3D-1”: não servirá para provar, como escreveu um crítico americano, a “bancarrota estética” das 3D, mas serve pelo menos para comprovar que toda as técnicas e tecnologias são mais interessantes quando usadas “a contrario”. E depois os animais (parte do filme passa-se num zoo): ficam bem em 3D, melhor dos que os humanos, sugerindo que a tridimensionalidade está vocacionada para filmar formigueiros, casais de guaxinins e toda a sorte de bicharada que se apanha a horas mortas nos canais do cabo, quando a insónia pede para ser amortecida com alucinógenos deste tipo, de efeito garantido sobre a psique e nenhuma sequela fisiológica.

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