Ministro da Saúde diz que há cirurgiões que trabalham muito pouco

Administrador do S. João fez as contas e concluiu que cada cirurgião em Portugal faz, em média, uma cirurgia por semana. Ordem dos Médicos diz que análise é simplista.

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Paulo Macedo: há cirurgiões que "têm uma produtividade muito abaixo da média" Enric Vivies-Rubio

A polémica está instalada. Depois de o presidente do conselho de administração do Hospital de S. João (Porto) ter afirmado que pelo menos 30 cirurgiões da sua unidade não fizeram uma única cirurgia este ano, o ministro da Saúde admitiu nesta terça-feira que este não será caso único e considerou que há uma grande assimetria na produtividade destes especialistas. O bastonário da Ordem dos Médicos diz que “não é ético colocar as coisas desta forma”.

Há cirurgiões que "têm uma produtividade muito abaixo da média", enquanto há outros "que fazem um número muito concentrado, diferenciado e elevado de cirurgias", afirmou esta terça-feira Paulo Macedo, citado pela Rádio Renascença, à margem da inauguração de um novo equipamento de cuidados continuados, em Camarate.

A controvérsia começou com as declarações feitas pelo presidente do conselho de administração do Hospital de São João, António Ferreira, em entrevista à TVI, na segunda-feira à noite. O administrador, que é médico, adiantou que o seu hospital tem 30 cirurgiões que, num espaço de um ano, nunca entraram no bloco operatório. Se com isso pretendia dizer que não operaram porque estão de baixa médica ou por outro motivo, não se sabe, uma vez que não explicou e esta terça-feira não se mostrou disponível para prestar mais esclarecimentos.

Mas o problema não será exclusivo desta unidade hospitalar. António Ferreira fez, durante a entrevista, uma operação aritmética simples: pegou no número de cirurgiões especialistas no país em 2010 (3854), no total de cirurgias convencionais realizadas (excluindo as feitas em ambulatório) – mais de 196 mil nesse ano – e dividiu tudo por 46 semanas. Conclusão: em todo o país, em média, cada cirurgião fará uma cirurgia por semana, rematou.

A culpa é da estrutura
“A análise dos números em bruto transmite uma ideia negativa muito injusta. Não é ético colocar as coisas desta forma”, reagiu, agastado, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, notando que há “uma série imensa de factores” que influenciam estes rácios.

Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, Júlio Leite, e o presidente do Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral da OM, Costa Maia, defenderam que as contas não podem ser feitas desta forma. Admitindo, embora, que os cirurgiões em Portugal fazem poucas cirurgias quando comparados com os colegas de países do Norte da Europa, os dois notam que a culpa não lhes pode ser atribuída por completo.

“Não é um problema dos profissionais, mas sim da estrutura. Há alguns cirurgiões que fazem muitas cirurgias e outros que fazem menos porque estão a ajudar os mais novos [os internos da especialidade]”, explicou ao PÚBLICO Júlio Leite. Além disso, os cirurgiões fazem outras coisas, como consultas e investigação, acrescentou.

“Dividir o número de cirurgias por especialistas dá resultados simplistas de mais. Não é útil nem produtivo porque as cirurgias não dependem só dos cirurgiões, mas de toda uma equipa, que inclui anestesistas e enfermeiros, e da parte logística [disponibilidade dos blocos operatórios]”, acrescenta Costa Maia, que também é director do Serviço de Cirurgia-Geral do Hospital de S. João.

 

 

 
 
 
 

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