"Family Guy" e "American Dad" não foram transmitidas devido à tragédia de Newtown

Algumas estreias de filmes estão a ser adiadas e na televisão algumas séries não têm ido para o ar

A pergunta não é de hoje e é frequente aparecer em momentos de crise. Depois do tiroteio numa escola primária em Newtown, no Connecticut, que fez 26 vítimas mortais, entre as quais 20 crianças, não foi apenas a questão da regulação do uso de armas que se levantou.

Nos últimos dias são muitas as vozes críticas que se fazem ouvir em relação à violência em meios como a televisão e o cinema. Dificilmente alguma coisa mudará no mundo do entretenimento, mas pelo menos neste momento de luto está a existir algum cuidado.

Algumas estreias de filmes estão a ser adiadas e na televisão algumas séries não têm ido para o ar. No fim-de-semana a Fox optou por não transmitir os novos episódios das séries "Family Guy" e "American Dad", alegando não querer correr o risco de ferir susceptibilidades.

No caso da série "American Dad", o episódio é sobre um demónio que castiga as crianças que se portam mal no Natal. Já se sabe que estas são séries satíricas, no entanto os responsáveis do canal acharam que este não era um bom momento para serem transmitidas. 

O novo filme de Tom Cruise, "Jack Reacher", também devia ter estreado na sexta-feira mas os estúdios Paramount Pictures decidiram adiar a sua estreia “por respeito às famílias das vítimas”. Jack Reacher nada tem a ver com o que aconteceu na sexta-feira em Newtown, mas ainda antes de chegar aos ecrãs se tem falado da violência representada.

Conteúdo violento inspira violência

O filme abre com uma cena em que um especialista em "snipers" mata cinco pessoas em Pennsylvania, estado norte-americano não muito longe de Connecticut. Mas esta não é uma questão unânime. Quentin Tarantino, por exemplo, fez questão de dizer no fim-de-semana que está cansado da conversa sobre a violência nos filmes sempre que os Estados Unidos estão chocados com a violência de ataques como o que Adam Lanza, autor do massacre, executou. 

Numa conferência de imprensa sobre o seu último trabalho, "Django Unchained", um "western spaghetti" onde não faltam tiros e sangue, frisou que não tem de justificar o teor do filme, por ser mesmo isso: um filme. “Sabemos que existe violência no mundo, as tragédias acontecem”, disse Tarantino, citado pela BBC.

“Isto é um western. Poupem-me.” Realizador de filmes como "Sacanas Sem Lei", "Kill Bill" ou "Pulp Fiction", disse ainda que a culpa por actos violentos acontecerem tem de cair sobre quem os comete e nada mais. Na mesma conferência de imprensa, o actor Jamie Foxx, um dos protagonistas de "Django Unchained", defendeu, por seu lado, que o cinema pode de facto influenciar pessoas.

“Não podemos agora dizer que a violência nos filmes não tem qualquer tipo de influência nas pessoas. É claro que tem”, afirmou. Mas Christoph Waltz, que também entra no novo filme de Tarantino, disse existir uma diferença entre um filme ter conteúdo violento e incentivar à violência.

“O 'Django' é violento mas não inspira violência.” Para a actriz Kerry Washington, que no filme de Tarantino interpreta a mulher de Django, a violência ser tema de filmes e séries pode também ter um intuito educativo.

“Eu acho que é importante falarmos de violência quando temos a oportunidade e não apenas dá-la como entretenimento, devemos mostrar o que está mal, as injustiças, os males sociais”, disse a actriz.
 

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