Maioria dos italianos estão contra uma candidatura de Monti

A direita e o centro querem ver o professor candidatar-se em Fevereiro. A generalidade dos italianos discorda.

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O ex-comissário europeu chegou ao poder em Novembro de 2011 Daniel Rocha

De Angela Merkel aos empresários italianos, passando por Barack Obama ou pelo Vaticano, todos apoiam a permanência de Mario Monti na liderança de Itália. Os italianos é que nem por isso: segundo uma sondagem publicada domingo no "Corriere della Sera", 61% opõem-se a uma eventual candidatura do professor às legislativas. Há 30% que se dizem favoráveis, mas destes, só oito a 10% "ponderam seriamente" votar nele.

O ex-comissário europeu chegou ao poder em Novembro de 2011, a pedido do Presidente Giorgio Napolitano e sob pressão de Bruxelas e dos mercados. Com o Governo de direita de Silvio Berlusconi bloqueado por escândalos e pela perda da maioria no Parlamento, e o país prestes a afundar-se na crise do euro, a solução encontrada pelo Chefe de Estado foi convencer os partidos a apoiar um governo técnico "de emergência" liderado pelo respeitado Monti.

Inicialmente, a solução tinha um prazo de validade: a Primavera de 2013, fim da legislatura iniciada após as eleições de 2008, vencidas pelo Povo da Liberdade do Cavaliere. Mas rapidamente se começou a especular sobre um Monti-bis.

Nas últimas semanas, começou a respirar-se um clima pré-eleitoral e sucederam-se os abalos. As primárias do Partido Democrático (PD), a principal formação de centro-esquerda, devolveram visibilidade ao partido e fizeram-no subir nas sondagens. A seguir, Berlusconi ordenou aos seus deputados para retirarem o apoio a Monti em duas votações no Parlamento, anunciando em seguida a intenção de concorrer pela quinta vez ao cargo de chefe de Governo.

Federador do centro-direita

Abandonado por aliados e humilhado pelo Partido Popular Europeu (ao qual pertence o PdL), que manifestou o seu apoio a Monti (como muitos líderes no Conselho Europeu da semana passada), Berlusconi lá recuou e convidou Monti a candidatar-se em nome do "campo moderado". Ontem, numa carta lida num congresso que juntou dirigentes do PdL, Berlusconi repetiu a mensagem: "A Itália dos moderados representa a maioria do país. Se o desejar, o professor Monti, que partilha os meus, os vossos, os nossos ideais, pode ser o federador" do centro-direita.

Para além do PdL, os apoios a Monti chegam de uma nova aliança de centristas e empresários liderada pelo presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo. As sondagens indicam que este grupo subiria de 9,3% para os 15,1% se Monti fosse o seu líder.

Quase isolado na oposição à candidatura de Monti está o PD, liderado por Pier Luigi Bersani. À frente nas sondagens, o PD vê-se agora na situação estranha de defender que é tempo de Monti se afastar da governação enquanto continua a apoiar todas as suas decisões.

Os eleitores, por seu turno, têm opiniões diferentes das lideranças partidárias: a sondagem realizada para o Corriere della Sera pelo instituto Ipsos também mostra que são os eleitores do PD e não os do PdL os que melhor vêem uma possível candidatura de Monti. Há 44% de apoiantes do PD a considerem essa eventual candidatura positiva; só 19% dos apoiantes do PdL concordam.

Quanto a Monti, ainda não está pronto para comunicar a sua decisão. Ontem saiu em silêncio de um encontro com Napolitano. Depois, ambos estiveram num concerto de Natal no Senado, ao alcance dos jornalistas. "É Monti que o deve dizer e ele o dirá", respondeu o Presidente quando questionado sobre se o professor já decidira. Quando os microfones se viraram para Monti, este respondeu: "Feliz Natal. Desejo-vos realmente o melhor."

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