Democratas prometem banir venda de armas semiautomáticas

Horas depois da tragédia de Newtown, a página oficial da Casa Branca já alojava uma petição com mais de 100 mil assinaturas exigindo leis mais restritivas para a venda de armas

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Os democratas no Congresso dos Estados Unidos prometeram recuperar o decreto-lei que proibia a venda ao público de armas semiautomáticas, que foi aprovado em 1994 mas que expirou dez anos depois, sem que a maioria republicana no poder aceitasse a sua renovação.

No rescaldo do tiroteio na escola primária de Sandy Hook em Newtown, Connecticut, em que morreram 28 pessoas, a senadora democrata Dianne Feinstein defendeu a necessidade de avançar urgentemente com medidas de restrição do acesso a armas de fogo, semelhantes àquelas que foram adoptadas no tempo do Presidente Bill Clinton.

"Eu própria apresentarei ao plenário, no primeiro dia de trabalho do novo Senado, um novo decreto no sentido de banir a venda de armas semiautomáticas. E uma proposta idêntica será introduzida para votação na Câmara de Representantes", garantiu Feinstein no programa de debate político dominical Meet the Press, da NBC. A proposta, concretizou, passa pela proibição da "venda, transferência, importação e posse de armas semiautomáticas", e também de carregadores com mais de dez balas. Nenhum dos 31 senadores que fazem parte da nova legislatura que toma posse em Janeiro de 2013 e integram o lobby pró-armas aceitou participar no debate televisivo.

Na CNN, o governador do estado do Connecticut, Dan Malloy, lamentou que a lei de 1994 tenha expirado sem que os legisladores tenham pensado no tipo de armas que ficariam disponíveis no mercado. "Estamos a falar de armas semiautomáticas, não de espingardas que se usam para caçar veados. Só podemos esperar que agora se encontre uma maneira de limitar o acesso a este tipo de armamento, que tem um único propósito", referiu.

A congressista democrata Carolyn McCarthy, cuja família foi atingida num ataque indiscriminado em Long Island, em 1993 (o marido foi morto e o filho seriamente ferido), já avisou a Casa Branca que tenciona ir até ao fim na defesa das restrições à venda de armas, "nem que isso signifique envergonhar o Presidente" e "responsabilizar a Administração" pela sua inacção após uma série de tiroteios (88 vítimas só em 2012).

McCarthy disse ao Politico que falou com o chefe de gabinete da Administração, Jack Lew, e exigiu saber quais as medidas que o Presidente vai promover para prevenir mais massacres como os de Aurora ou Sandy Hook. "Não há uma única pessoa na América que não pense que isto vai voltar a acontecer", sublinhou o seu correligionário John Larson, que representa um círculo eleitoral do Connecticut. "Chegou a altura de reconhecer o perigo e tomar medidas. E que se lixe a politiquice", desabafou.

Horas depois da tragédia de Newtown, a página oficial da Casa Branca já alojava uma petição com mais de 100 mil assinaturas exigindo leis mais restritivas para a venda de armas. "O objectivo desta petição é forçar a Administração a produzir legislação para limitar o acesso às armas e regular as condições em que a sua venda é possível. Apesar de entendermos a necessidade de um debate nacional alargado, acreditamos que só com legislação conseguiremos reduzir o número de mortes por armas de fogo", escreve o primeiro subscritor, identificado apenas como David G.

Desde sexta-feira, o site da presidência recebeu uma dezena de petições, três das quais pró-armas. Uma delas pedia ao Presidente para autorizar "uma arma em cada sala de aula", e outra sugeria a contratação de antigos militares com experiência de combate para fazer segurança armada nas escolas. Na outra, lia-se que "o Presidente tem de garantir que a 2.ª Emenda da Constituição não é infringida e que a possibilidade de os cidadãos se defenderem de governos tirânicos não é limitada". Nenhum destes documentos tinha mais que 4000 assinaturas.

No rescaldo do tiroteio, os editorialistas e comentadores voltaram a denunciar a cultura de glorificação da violência que prevalece na América, mais uma vez exposta por uma tolerância às armas sem paralelo. Como demonstram os números coligidos pelo Washington Post, nenhum outro país do mundo apresenta uma taxa tão elevada de posse de armas entre a população civil: com 270 milhões de armas registadas, a média é de nove armas por cada dez americanos.
 
 

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