Isabel dos Santos e Sonae repartem controlo na fusão da Zon e Optimus

Negócio irá criar nova empresa controlada em partes iguais pela empresária angolana e pelo maior grupo privado português. A operação depende apenas dos restantes accionistas da Zon.

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A estrutura do negócio
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Os accionistas das duas operadoras
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Acções em forte alta em 2012

O noivado foi longo, mas parece que é desta que a Optimus e a Zon vão partir para uma fusão sobre a qual se especula desde 2007. Se o negócio se concretizar, com a necessária aprovação dos accionistas da empresa liderada por Rodrigo Costa, nascerá um novo operador com mais de cinco milhões de clientes e uma facturação superior a 1,4 mil milhões de euros.

O anúncio foi feito na sexta-feira, ao final do dia, pela Sonaecom (dona da Optimus e do PÚBLICO) e por Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, que controla 28,8% da Zon (através da Kento e da Jadeium). O projecto será agora analisado pelos conselhos de administração das duas empresas e levado a assembleia geral, onde a empresária deverá garantir luz verde à operação.

Se assim for, Sonaecom e Isabel dos Santos vão criar um veículo financeiro, detido em partes iguais, que passará a controlar a empresa nascida da fusão entre a Optimus e a Zon. Neste veículo entrará a totalidade da participação que a empresária detém nesta última operadora e uma "parcela substancial" dos 100% que a Sonaecom tem na Optimus. O equilíbrio de forças entre as duas partes foi o culminar de vários meses de negociações e um factor decisivo para um entendimento que irá ter reflexos ao nível da gestão da empresa que vier a surgir.

O negócio que será apresentado aos restantes accionistas da operadora liderada por Rodrigo Costa pressupõe "uma relação de troca baseada numa valorização da Zon correspondente a 150% da Optimus". Os impulsionadores da fusão mostram, no entanto, disponibilidade para considerarem uma alteração destes termos, de modo a concretizar a operação.

Se tudo correr como previsto - e embora assumam uma posição de controlo na nova empresa que vier a surgir -, a Sonaecom e Isabel dos Santos irão pedir ao regulador do mercado de capitais para serem dispensados do lançamento de uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre o restante capital. Isto por se tratar de uma fusão entre duas entidades.

A união da Optimus e da Zon criará um novo operador em Portugal, com uma facturação conjunta superior a 1,4 mil milhões de euros, tendo em conta os resultados das duas empresas em 2011. Nesse ano, a operadora do grupo Sonae alcançou receitas de 574,7 milhões, enquanto a Zon gerou 854,8 milhões. Já os lucros somados das duas atingiram 162,7 milhões de euros em 2011. E, nos primeiros nove meses deste ano, acumulavam mais de cinco milhões de clientes.

Mais concorrência
A junção de forças criará sinergias que vários analistas têm calculado em cerca de 300 milhões de euros. A Optimus está mais focada no serviço de telecomunicações e ganhou este ano uma licença para a quarta geração móvel. Já a Zon opera nas áreas de televisão por subscrição e banda larga fixa. Uma complementaridade que permitirá ao novo operador competir de forma mais musculada com a PT.

De acordo com o comunicado ontem divulgado, a Sonaecom e Isabel dos Santos acreditam que haverá um "maior potencial para intensificar os níveis de concorrência entre operadores". A nova entidade irá, da mesma forma, ver reforçada a sua capacidade de investimento para novos produtos ou mercados, com especial atenção para os países emergentes.

Neste momento, a empresária já detém a maioria do capital da Zap, empresa de TV paga que opera em Angola, em parceria com a Zon. Isabel dos Santos também lidera uma joint-venture com a Sonae, que irá levar os hipermercados Continente para aquele país.

Os rumores sobre este "casamento" começaram em 2007, depois de ter falhado a OPA da Sonae sobre a PT. Apesar do fracasso da operação, a empresa liderada por Zeinal Bava teve de avançar para um processo de cisão que deu origem à empresa que viria a chamar-se Zon.

Em Setembro deste ano, a especulação voltou a ganhar fôlego, quando o presidente executivo da Optimus, Miguel Almeida, veio dizer que o negócio "fazia sentido", acrescentando que "um novo conjunto de condições está reunido e poderá ajudar a que a fusão aconteça". O gestor referia-se ao reforço de poderes de Isabel dos Santos na Zon. Desde o início deste ano, a empresária foi-se sucessivamente posicionando como maior accionista da operadora presidida por Rodrigo Costa. O primeiro reforço aconteceu em Maio, depois de os accionistas da empresa terem aprovado o fim das restrições de votos, que estavam limitados a 10% (independentemente do seu peso). Isabel dos Santos começou por comprar a posição da Telefónica (cerca de 5%).

Nos meses seguintes, acordou a aquisição das acções da Cinveste (2,82%) e depois as da Caixa Geral de Depósitos (10,96%). E, com isto, passou a deter 28,8% da Zon. Apesar desta investida, o capital da empresa continua muito disperso, o que significa que Isabel dos Santos terá de contar com o apoio de outros accionistas para concretizar o acordo com a Sonaecom.

Uma questão que, à partida, não será um problema, visto que parece haver uma predisposição para a fusão. A Visabeira, que detém 2,15% da Zon, é favorável à união com a Optimus. O presidente executivo do grupo de Viseu afirmou ao PÚBLICO que "tudo o que seja criar valor para o accionista é útil e positivo", acrescentando que a operação "será vantajosa, nomeadamente para a Zon".

Joe Berardo, que detém 5,63% do capital da empresa, disse ontem ao Dinheiro Vivo que o acordo de fusão anunciado "é uma boa notícia para o final do ano", desde que "seja ao justo valor para todos e não haja conflitos de interesses entre os accionistas". Não foi possível obter um comentário do BES, nem do BPI, dois accionistas de peso da Zon que estarão interessados em ver o negócio avançar.

Isabel dos Santos é, aliás, a segunda maior accionista do BPI, com 19%, após ter elevado a sua posição este ano, ao comprar parte das acções que os espanhóis do La Caixa adquiriram ao Itaú. Em Portugal, a empresária acompanhou ainda, ao lado da Sonangol e de Américo Amorim, o reforço da posição na Galp, detendo hoje, indirectamente, 7,75% da petrolífera portuguesa.

Também o BIC, onde possui 25% do capital, deu em 2012 um salto no sector financeiro, com a compra do BPN ao Estado português. Se em Portugal o principal concorrente da Zon é a PT, em Angola Isabel dos Santos é parceira da empresa liderada por Zeinal Bava, através da operadora Unitel.
 
 

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