Trabalha num armazém de ração para animais e venceu um prémio de jornalismo

Tem 24 anos, estudou jornalismo, mas trabalha num armazém de ração para animais. Vai receber três mil euros do Prémio Adriano Lucas com a reportagem "Ao abrigo de Coimbra"

Adérito Esteves, 24 anos, estudou jornalismo, mas trabalha num armazém de ração para animais. Atende o público, trata das encomendas, limpa o espaço. Nas horas livres, decidiu ir para o terreno ouvir as histórias de vida dos sem-abrigo de Coimbra e dessas conversas nasceu a reportagem Ao Abrigo de Coimbra. Foi com este texto que o jovem venceu o Prémio de Jornalismo Adriano Lucas: vai receber três mil euros e ver o texto publicado esta sexta-feira no "Diário de Coimbra".

Natural da Marinha Grande, Adérito Esteves vive actualmente em Coimbra, onde estudou Jornalismo. Sempre gostou da área desportiva, mas quando teve de fazer um trabalho para a cadeira de Grande Reportagem, que fazia parte do mestrado, resolveu abordar outros assuntos, contar outras histórias. Decidiu, então, escrever sobre um conjunto de pessoas que toda a gente conhece em Coimbra, “pessoas que estão sempre no mesmo sítio”: o senhor que vende a lotaria, o senhor que vende a revista Cais…

Fazer este trabalho deu-lhe “um gozo enorme” e, enquanto andava pelas ruas, no terreno, lembrou-se que seria interessante fazer uma outra reportagem, mas sobre as histórias de vida dos sem-abrigo. Ainda perguntou a alguns jornalistas se haveria alguma hipótese de publicar o texto nas páginas de um jornal, mas avisaram-no de que o mais difícil não seria publicar o trabalho, mas ser pago por isso.

Adérito Esteves pôs a ideia de parte até que viu abertas as inscrições para o Prémio de Jornalismo Adriano Lucas, instituído em 2011, pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC), em parceria com a Universidade de Coimbra (UC) e o jornal "Diário de Coimbra" (DC). O prémio não só era monetário – 3 mil euros – como previa a publicação da reportagem.

Decidiu concorrer, e foi para o terreno: às terças e quintas à noite ia para as ruas de Coimbra conversar com sem-abrigo, ouvi-los. A reportagem, à qual chamou "Ao abrigo de Coimbra", venceu. Agora, com o dinheiro e o estímulo que recebeu, pondera meter-se a caminho do Porto ou de Lisboa para tentar a sorte nos jornais. Ainda não é certo o que vai fazer, mas certo é que não vai desistir: quer ser jornalista a tempo inteiro.

Para além de trabalhar num armazém de ração para animais, Adérito Esteves manteve, durante algum tempo, uma colaboração em "part-time" com o site "Mais Futebol". Mas, com a crise, essa colaboração foi ficando cada vez mais irregular. “Nunca exerci a tempo inteiro”, lamenta.

Esta sexta-feira, dia 14, viu o seu trabalho impresso no jornal e, às 18h00, vai receber o prémio numa cerimónia que se vai realizar na Casa Municipal da Cultura de Coimbra e que inclui, entre outros momentos, uma conferência de Marcelo Rebelo de Sousa sob o tema "A liberdade de imprensa".

O júri, que atribuiu o prémio por maioria entre 13 trabalhos concorrentes, foi constituído por Marcelo Rebelo de Sousa e Jorge Castilho (elementos convidados), e por Maria José Azevedo Santos (CMC), Carlos Camponez (UC), e João Campos (DC).

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