Patriarcado de Lisboa desconhece abusos sexuais na diocese

Carta enviada a D. José Policarpo por Rede de Cuidadores, que falava de “denúncias” em geral, não mereceu ainda comentários.

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D. José Policarpo diz que declarações de Catalina Pestana são “falsas” Rui Gaudêncio

O director de comunicação do Patriarcado de Lisboa diz que D. José Policarpo nunca se reuniu com a ex-provedora da Casa Pia para falar de eventuais crimes praticados por padres da diocese. Em declarações ao Diário de Notícias, o padre Nuno Rosário Fernandes diz ainda que o cardeal-patriarca não recebeu quaisquer denúncias de abusos sobre menores.

Tal como o PÚBLICO noticiou quarta-feira, a 29 de Dezembro de 2010 o psiquiatra Álvaro de Carvalho, presidente da Rede de Cuidadores, uma organização não-governamental que fundou depois do escândalo da Casa Pia de Lisboa com Catalina Pestana, escreveu ao cardeal-patriarca. Nessa carta, a que o PÚBLICO teve acesso, criticava algumas das declarações de D. José Policarpo numa entrevista publicada dias antes, na qual este afirmava desconhecer casos de pedofilia na Igreja em Portugal.

“Em Junho último, expedi uma carta, também em nome da Rede de Cuidadores, ao sr. D. Jorge Ortiga, na qualidade de presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, com conhecimento a V.ª Eminência, em que propunha uma conversa directa sobre denúncias que nos têm chegado, sobre a qual nunca obtive ecos. Para colmatar a hipótese de a mesma se ter extraviado, nesta data envio uma 2.ª via para os mesmos destinatários”, escreveu Álvaro de Carvalho.

Desde ontem que o PÚBLICO tenta obter junto do Patriarcado de Lisboa um comentário, procurando saber se a carta deu origem a algumas diligências por parte do cardeal-patriarca, mas sem sucesso.

Em “Abril ou Março” do ano passado, ainda segundo Álvaro de Carvalho, houve uma reunião entre elementos da rede com D. Jorge Ortiga, na qual não esteve presente D. José Policarpo. Mas no passado fim-de-semana, contactada pelo PÚBLICO para comentar a recente detenção do vice-reitor do Seminário Menor do Fundão, um padre de 36 anos que foi acusado por alunos de abusos sexuais, Catalina Pestana disse não estar surpreendida: “Sei que há casos de pedofilia. Só na diocese de Lisboa conheço cinco”, afirmou, acrescentando ter dado conhecimento, “pessoalmente”, desses casos a D. José Policarpo. Através do gabinete de comunicação do Patriarcado, citado também nesta quinta-feira pelo jornal i, o cardeal sublinha que estas declarações são “falsas”.

Ontem, Álvaro de Carvalho esclareceu ainda que os casos em geral de que falava na carta não estavam “activos”, ou seja, não diziam respeito a eventuais abusos que estivessem a acontecer. “Não eram casos recentes, eram antigos, mas achámos que a Igreja devia retractar-se, como estava a retractar-se em todo o mundo.”

Ontem, D. Jorge Ortiga fez saber, através do seu secretário, o padre José Miguel, que teve, de facto, uma reunião com a Rede de Cuidadores na qual disse que seriam tomadas decisões nessa matéria, o que veio a acontecer, segundo este padre, através da publicação, pela Conferência Episcopal, já este ano, das “directrizes referentes ao tratamento dos casos de abuso sexual de menores por parte de membros do clero”.

A Procuradoria-Geral da República anunciou entretanto que vai mandar instaurar um inquérito, junto do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, na sequência das declarações de Catalina Pestana. A ex-provedora da Casa Pia já disse que mantém tudo o que disse, mas não quer fazer mais comentários à comunicação social.
 
 
 
 
 
 
 

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