Marques Mendes: "Falta afectividade e há excesso de tecnocracia" no Governo

Antigo líder social-democrata volta a criticar ministros, embora se mantenha como apoiante deste Governo.

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Marques Mendes substituirá Joana Carneiro num jantar-debate Nelson Garrido

O ex-líder social-democrata Luís Marques Mendes criticou neste sábado a "frieza tecnocrática" do Governo na comunicação de algumas medidas de austeridade e defendeu que áreas como a reforma administrativa podem afectar a "coesão", se "não forem explicadas".

 

As afirmações do antigo presidente do PSD foram proferidas durante a Universidade Política do PSD-Lisboa, em Sintra, depois de questionado por um jovem participante, que o apontou como "muito crítico" do Governo, sobre se achava que o anterior Governo socialista, de José Sócrates, "faria melhor" do que o executivo de coligação.

"Eu não sou muito crítico da esmagadora maioria das decisões do Governo, sou muito apoiante, até, em geral", confessou Marques Mendes.

Já em relação ao desempenho do PS e a José Sócrates, o antigo dirigente respondeu: "Eu espero que ele não vá ressuscitar, isso não faria bem à saúde democrática do país."

No entanto, admitiu que o PS, "com outro líder no Governo, no essencial, estaria a fazer essencialmente o mesmo, apesar de dizer o contrário".

"Noventa por cento do que é feito por este Governo é imposto pelo exterior e para os restantes 10% não há grande dinheiro para fazer substancialmente diferente", acrescentou.

Quanto à sua posição crítica em relação ao Governo PSD-CDS, Marques Mendes defendeu que "às vezes os ministros podiam falar das matérias com mais afectividade e pedagogia e com menos frieza tecnocrática".

"A mesma coisa pode ser dita de várias maneiras. Falta afectividade e há excesso de tecnocracia. As pessoas não são números", advertiu o ex-secretário de Estado.

Antes, a propósito de uma outra pergunta sobre a redução de freguesias em Lisboa, Luís Marques Mendes considerou que este é "um esforço difícil mas positivo", porque há "freguesias a mais", mas criticou que "do ponto de vista do discurso se acentue o que não é verdadeiro", ou seja, "que é para poupar dinheiro".

"As pessoas nos meios rurais olham para a freguesia como se fosse sua propriedade; se isto não é bem explicado, vai deixar marcas do ponto de vista da coesão. Sei que em Sintra, Cascais ou Lisboa isto vos não diz nada, mas o país é urbano e é rural, e é positivo que assim seja", afirmou.

O antigo dirigente do PSD disse ainda que "a par de uma política de austeridade, que é indispensável para colocar o país a viver dentro das possibilidades", é preciso "cuidar de uma agenda para o crescimento".

Manifestou "simpatia" por medidas como o "IRC mais baixo para atrair investimento" e "a ideia de reindustrializar o país".

A tentação das promessas
O ex-presidente do PSD Marques Mendes considerou ainda neste sábado que os candidatos às próximas autárquicas devem "abandonar a tentação de fazer promessas" e defendeu uma "revolução" nos poderes das câmaras, que devem privilegiar o "desenvolvimento" em detrimento das obras.

"Na minha opinião, faz todo o sentido iniciarmos uma nova fase, a das autarquias serem agentes activos do desenvolvimento económico e social de cada concelho, ao invés daquele conceito só de infra-estruturas e equipamentos", afirmou Luís Marques Mendes, num almoço-conferência durante a segunda Universidade Política do PSD-Lisboa, que decorre em Sintra.

Na sua intervenção sobre poder autárquico, de mais de 30 minutos e que incluiu depois uma parte de perguntas e respostas, o comentador político, que assumiu funções autárquicas pela primeira vez em 1976, falou da sua experiência pessoal e afirmou que do ponto de vista histórico as câmaras municipais passaram por duas fases até hoje: construção de infra-estruturas básicas (anos 90) e mais recentemente construção de equipamentos (desportivos, de saúde, educativos ou sociais).

Na opinião de Marques Mendes, nas próximas autárquicas é preciso "uma mudança de cultura e mentalidade".
 
 

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