A balada da neve numa estância très belle

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A aldeia foi construída em 1977, adoptando os padrões da tradição local e rejeitando o betão mais descaracteri-zado

Pelos Alpes franceses, descobrimos a beleza e calma de uma estância de esqui familiar, que tem nesses atributos a sua maior atracção face aos resorts mais concorridos. Entre vales e montanhas branquinhos, com um pé no luxo e outro na neve, mergulhamos em Valmorel, dita La Belle. Luís J. Santos (texto) e Dário Cruz (fotografia)

O sol vai caindo entre os picos nevados, as sombras estendendo-se, os últimos esquiadores parecem fantasmas deslizantes. Está um frio de gelo à nossa volta. E, porém, contra todas as evidências, é de calções que estamos na rua, rodeados de neve por quase todos os lados. É quando o corpo entra todo no fumegante jacuzzi ao ar livre, numa invernosa alegria estival, que ficam para trás as dores das quedas nas infrutíferas tentativas de aperfeiçoar a arte de esquiar, os medos de deslizar de raquetes nos pés pelos precipícios, as vertigens de andar pelos ares. É nesta ilha-jacuzzi, no resort que nos serve de portal deluxe para descobrir as neves alpinas de Valmorel, que olhamos para os dias brancos que andamos a viver e percebemos melhor porque chamam La Belle a esta familiar estância francesa.

Deixamos para trás os porta-aviões da neve alpina - até pela vizinhança, das concorridas Courchevel a Val Thorens ou Val d"Isère - e ficamos nesta santa paz de Valmorel, uma pequena estância, é certo, mas que é porta para um Grand Domaine com mais de 150km de pistas, a partir dos 1400m e até aos 2832m. Na Saboia, na região de Rhônes-Alpes, tem o seu epicentro numa aldeia em que tudo parece à medida certa, por umas ruelas de lojinhas e gastronomias e com o charme saboiano bem aplicado. Há uma razão para isso: foi construída de raiz, nos anos 1970, adoptando os padrões da tradição local e rejeitando o betão mais descaracterizado. E assim se tem mantido. Embora esteja a ser alvo de um crescimento súbito, muito graças ao Club Med que viemos estrear, aberto desde finais de 2011 e que eleva Valmorel para além da sua circunspecção. Ainda assim, com uma baixa ocupação urbana e seguindo, afiança o Turismo local, uma ética ecológica - o que lhe valeu, entretanto, um Green Globe, certificação internacional para o turismo sustentável.

Da janela da nossa suite - um verdadeiro apartamento, refira-se, repleto de mimos -, nada parece interferir com a harmonia de postal ilustrado. Estamos no coração da estância, um pouco acima da aldeia, numa espécie de palácio alpino, e aos nossos olhos abre-se o vale salpicado de neve, aldeias e chalets a iluminarem-se, os bosques a agasalharem-nos e o horizonte recortado pelas montanhas. Por estas alturas, a grande dúvida é se a harmonia se mantém quando, pela manhã, calçarmos as botas e sairmos para a lição de esqui...

À neve, esquiadores

Nada de perder tempo em bichas ou trânsitos. Este é um resort esquis-nos-pés e quase se pode dizer que a neve é um prolongamento dos lençóis. "Todos preparados para serem campeões?", incentiva-nos o instrutor Joel. "Oui, oui", replica um coro algo adormecido. Está um sol esplendoroso quando começamos: uns a escorregar, outros a parecer que patinam, um ou dois a praticar o sku. É mais um dia de alegria na escola de esqui do Club Med e, como as aulas estão incluídas, todos se aventuram. Em Roma, sê romano; na neve, tenta ser esquiador. Os mais profissionais já se exibem pelas dezenas de pistas divididas em vários graus de dificuldade. Os experimentadores sofrem. Alguns ficam-se pela graça da primeira lição, outros prosseguirão, dia após dia, a desenvolver a arte e ainda veremos alguns companheiros já em plenas façanhas deslizantes.

Mas, embora estejamos numa estância de esqui, a verdade é que, aqui no resort, há muita e boa gente que só vem pelo prazer de umas férias pacíficas cercadas pela neve ou acompanhar algum ente querido. "Troco já isto pela piscina!", confessa-nos Teresa, uma brasileira que, cansada de esquiar mais com as nádegas do que com os esquis, é um bom exemplo de quem se prepara para aproveitar tudo o que o resort prepara para os não-esquiadores. Enquanto terminamos a lição, felizes por conquistar uma inclinação de palmo e meio e nos preparamos para aproveitar o beberete servido em bar no meio da neve, damos uma primeira olhadela global a este resort que o Club Med considera de "nova geração", artilhado para ser uma pequena cidadela de onde nem é preciso sair. Até porque, da estada à alimentação ou ao bar aberto, de actividades a serviços e facilidades, está (quase) tudo incluído.

A celebrar um ano de existência, o empreendimento ergue-se em harmonia com as aldeias e vilarejos que acompanham os altos e baixos dos vales e montes, todo ele em materiais nobres, com a madeira, a pedra e os telhados cobertos a xisto. O "palácio" permite estadas em vários graus de luxo, ao gosto do freguês, já que inclui espaços de quatro e cinco tridentes (que é como o Med classifica os seus resorts, em vez de estrelas). Dito isto, cabe-nos em sorte a experiência do Le Lodge, o mais luxuoso e exclusivo dos espaços, onde são disponibilizadas 25 suites de topo: a nossa inclui quarto de casal e quarto de crianças e devidas casas-de-banho, quarto de vestir, sala de estar e varanda privada com vistas oníricas. O Lodge garante ainda acesso exclusivo a um luxuoso salão privado com muitos mimos e o olhar directo ao Monte Branco. Se o tamanho família ou luxo não for suficiente, não há problema: a dois passos do edifício principal do resort, nasceram duas dezenas de chalets de luxo à Club Med, com apartamentos que podem ser alugados ao dia (havia ainda alguns também para venda...) - são verdadeiras mansões alpinas, com direito a mordomo ou chef e spa ao domicílio.

Pelo Club, o tempo passa-se entre o imenso espaço de restauração, com serviço self-service repartido pelas mais diversas escolhas gastronómicas, um festim contínuo de cozinhas da Itália ou França, de gastronomias alpinas ou asiáticas. Ainda experimentaremos o mais privado La Laiterie, com serviço à la carte e direito a fondues de primeira. Para ginasticar, é dar umas braçadas na piscina interior, experimentar o ringue de patinagem, passar pelo centro de fitness ou relaxar no centro de bem-estar (há massagens e tratamentos chancela Carita). Isto enquanto a juventude, dos quatro meses aos 17 anos, se pode repartir por clubes e actividades temáticas (além de aulas de esqui ou snowboard) conforme as idades. O mesmo é dizer: os pais podem passar as férias com os filhos ao mesmo tempo que fazem férias dos filhos...

Nos intervalos disto tudo, entre idas e vindas da neve, é aproveitar as espreguiçadeiras e os raios de sol, que aqui até ainda sabem melhor que na praia. À noite, a animação é garantida: não sendo Valmorel um paraíso do après-ski ou da animação nocturna, o Club Med parece esforçar-se ainda mais do que lhe é habitual para animar as hostes pela noite fora - entre shows à Broadway, incentivos à dança colectiva e festas com DJ, nada falta. O bar aberto também ajuda, mas calma. Ou a manhã seguinte na neve será algo mais dura...

O mar da neve

A beleza de um dia radiante de sol visto de uma esplanada no topo de uma montanha coberta de neve é tão epidérmica que as palavras se tornam desnecessárias. Particularmente depois de termos chegado aqui em admiração vertical da paisagem no teleférico do Altispace. À nossa frente, um mar, mas a uns 1600m de altitude e de neve virgem. E, na esplanada do Les Voiles du Nant, parece que estamos na praia, tal a força do sol: não em vão, à nossa volta é só gente em tronco nu ou biquíni.

É aproveitar o descanso, que já temos outra experiência na agenda: trocamos os esquis pelas raquetas para o que será, julgamos, uma relaxante caminhada na neve. E, nesta área, já somos profissionais, certo? Errado. Os nossos guias trocam-nos as voltas e, de simples raquetas nos pés com (felizmente) um forte grampo metálico à frente, o passeio não é de todo na horizontal. Havemos de andar e andar, acompanhar o serpentear de um rio mais ou menos gelado, admirar bosques brancos e, muito particularmente, descer a pique inclinações que nunca nos passariam pela cabeça. A certo ponto, conseguimos mesmo, apenas inclinando completamente as raquetas e aferrando os grampos frontais na neve, ficar parados no ar, inclinados encosta abaixo. É apanhar-lhe o jeito e deixar a adrenalina fazer o resto. Lá em baixo, o resort. Mais abaixo, os vilarejos. Mas, agora que queremos espiar Le Bourg e arredores, porta de entrada em Valmorel, optamos pelo conforto do autocarro gratuito que interliga os pontos principais da zona...

Parece mentira mas a aldeia, embora aparente uma antiguidade secular, foi inaugurada em 1977. O seu pequeno centro é totalmente pedestre, ficando os carros fora da vista. O que a torna ainda mais ideal para passear e, claro, mais segura para famílias. Por aqui não há os luxos alpinos de outras estâncias nem se espere um après-ski de nível jet-set. Mas há o luxo da quietude. E também não falta nada. Envolta num charme pitoresco, acolhe umas dezenas de atracções, de lojas a restaurantes, bares ou cinema. Essencial é passar nas lojas gourmet do Bourg: entre a Bergerie de Valmo, a cooperativa regional Laitière ou La Ferme aux Gourmets, é um mundo de produtos locais, entre vinhos, compotas, enchidos e, claro, montanhas de queijos (o Beaufort des Montagnes, a especialidade, é um primor) para provar e comprar.

Ao longo da temporada há festas e eventos temáticos pela aldeia, além de programas especiais para as crianças. E, além de tudo, fica aqui o Turismo local, o sítio certo para eleger opções complementares para a experiência nevada. Por Valmorel e arredores há os mais variados programas de passeios pela neve (incluindo nocturnos), em raquetas ou de trenó, voltas em Segway ou voos em parapente ou visitas à região. Pode até aprender-se a construir um igloo.

Mas, entre gelo e neve, entre aldeia afável e resort de luxo, por mais voltas que demos, parecemos estar sempre a voltar à mesma atracção: para conjugarmos as temperaturas, nada melhor que um regresso, de cabeça fria e coração quente, ao tal jacuzzi efervescente. Nunca os Alpes pareceram tão calorosos...

A Fugas viajou a convite do Club Med e da TAP

Club Med

Club Med Valmorel

Hameau du Bois de la Croix

73260 Valmorel

Informações/reservas: www.clubmed.pt, Tel.: 213309696

Em regime tudo-incluído, os preços mínimos, por pessoa, com tudo incluído (à excepção de programas e actividades facultativas) varia entre cerca de 1490€ e 2480€, conforme as épocas (sem transporte). Se o desejar, o package pode incluir o voo e transfers.

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