Recuperadas mais de 70 mil refeições com o movimento Zero Desperdício

Lançado em Abril, o movimento aproveita refeições que de outra forma teriam o lixo por destino. Três mil pessoas carenciadas já foram ajudadas.

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A associação estima que a comida deitada no lixo em todo o mundo poderia alimentar três mil milhões de pessoas Adriano Miranda

Setenta mil refeições recuperadas e três mil pessoas em situação de carência ajudadas. É este o balanço dos primeiros oito meses de actividade do movimento Zero Desperdício, lançado pela associação DariAcordar para combater o desperdício diário de alimentos que de outra forma teriam o lixo por destino.

O projecto foi lançado com o objectivo de guardar refeições que nunca foram servidas ou cujo prazo de validade esteja a chegar ao fim, fazendo depois chegá-las a famílias desfavorecidas.

Estes dados foram contabilizados sem ter em conta os meses de Agosto e Setembro. Ainda assim, foram recuperadas mais de 40 mil unidades só de uma empresa de produtos de vending (produtos embalados vendidos em máquinas). Sintra, Loures e três freguesias de Lisboa estão ligadas a esta iniciativa.

Em Outubro, a associação assinou mais um protocolo de colaboração com outro município, o de Cascais, mas que não entra para as estatísticas ainda oficialmente. Também nalguns eventos como festivais de música ou jogos de futebol foram recuperadas mais de duas mil refeições.

O movimento Zero Desperdício surgiu após a petição contra o desperdício alimentar lançada em 2010 pelo piloto de linha aérea António Costa Pereira, que conseguiu reunir mais de 70 mil assinaturas. Há dois anos, Costa Pereira criou a associação DariAcordar e, já em Abril deste ano, nasceu este movimento, que envolve agora refeitórios de empresas e municípios, restaurantes, hotéis e dezenas de supermercados. Outros “alvos” do movimento são o refeitório e o restaurante da Assembleia da República, de onde se conseguem também recuperar 25 a 30 refeições diárias.

O processo é “simples”, diz António Costa Pereira, que classifica o movimento de “facilitador”. "Contactamos as câmaras municipais e juntas de freguesia, dizemos que temos supermercados, hotéis, restaurantes, etc., que querem doar alimentos, e pedimos a indicação de instituições locais que tenham capacidade para recolher e distribuir as refeições e identificar as famílias carenciadas. Não pedimos um cêntimo a ninguém, com este projecto. Ensinamos tudo, e essas instituições fazem-no como voluntariado”, explica.

A associação, fundada e presidida por António Costa Pereira, estima que cerca de 360 mil portugueses passam actualmente fome e que todos os dias são desperdiçadas cerca de 50 mil refeições em todo o país. Em todo o mundo, o que é deitado fora daria para alimentar três mil milhões de pessoas.

O movimento tem por lema a ideia de que “Portugal não se pode dar ao lixo” e tem um hino a que dão voz mais de 50 artistas portugueses que se associaram à iniciativa. Com música de João Gil e letra de Tim, entre os cantores participantes estão Luís Represas, João Pedro Pais, Rita Guerra ou Sara Tavares, entre muitos outros.

O Parlamento Europeu sugeriu à Comissão Europeia que 2014 seja proclamado Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar. A proposta ainda está em análise. “Caso 2014 seja designado dessa forma, Portugal, com o bom exemplo que deu com este projecto social, receberá muitos congressos conectados com a temática do desperdício alimentar e, desta forma, ajudaremos a dar um impulso à nossa economia”, diz António Costa Pereira, deixando no ar o desejo de chegar a todo o país e a outras áreas que não apenas a alimentação. “Mas, antes de crescermos a esse nível, queremos focar-nos na área da alimentação, que é primordial”, diz.
 
 

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