Death Grips e a história de uma sabotagem

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Por trás de No Love Deep Web, o álbum-acontecimento que os Death Grips lançaram este ano, está a história de uma banda mais ou menos indomável, agora contada pelos próprios à Spin JONATHAN MAGOWAN

Eis que a banda que não falava falou por fim.

Saibamos então que No Love Deep Web, dos Death Grips, álbum-acontecimento de 2012, foi lançado para todo o mundo desde a suite de um luxuoso quarto de hotel alugado por Steffan Burnett e Zach Hill com os últimos dólares que sobravam da quantia avançada pela sua editora, a Epic Records. E que a controversa foto da capa, um pénis erecto com o título do álbum inscrito a marcador, foi tirada na casa de banho da respectiva suite.

Hoje, Steffan e Zach, não têm editora; aparentemente, também não têm casa. Num mundo em que as bandas lutam por fazer uma carreira na Internet, os Death Grips, escreve a Spin, foram "a primeira banda ‘desfazer-se' através dela". Numa longa entrevista à revista americana, a primeira desde Money Store, o segundo álbum da banda, editado em Abril, contam toda a história. A corrosiva banda de hip-hop mutante lançou o seu terceiro álbum, No Love Deep Web, gratuitamente em todas as plataformas digitais, contrariando a editora e gerando um diálogo ruidoso entre quem apoiou a atitude punk e quem os acusou de montarem uma manobra publicitária. Por fim, a editora decidiu terminar o contrato e libertar-se do duo incontrolável.

Tudo começou no momento em que os Death Grips decidiram unilateralmente cancelar a digressão de 30 datas que se seguiria à edição de The Money Store. "Os [promotores dos concertos] estavam quase preocupados: ‘Eles estão bem? Tiveram um acidente de carro? Não me vou ‘passar' já porque talvez tenha acontecido algo mais grave do que aquilo que sei", contou Robby Fraser, da William Morris Agency, responsável pela marcação da digressão. O mais grave era, porém, isto: "Prefiro fazer um álbum do que andar em digressão. Para mim, não foi uma decisão muito difícil", explica agora Zach Hill. "Não quero parecer insensível perante as pessoas que nos queriam ir ver, mas temos de escolher prioridades enquanto artistas".

Os Death Grips, "pensando e agindo à velocidade da Internet", tinham novas ideias, nova música a fervilhar. Decidiram não esperar. Ignorando contactos do mundo exterior, fecharam-se na casa que partilhavam em Sacramento, Califórnia, aquela em que nasceram. A 31 de Agosto, No Love Deep Web estava concluído, e o duo viajou para Los Angeles para o mostrar à editora. Acontece que aqueles que lidavam directamente com a banda haviam sido despedidos numa reestruturação da empresa. "Acabámos por ser verdadeiros fantasmas no edifício", conta Hill. Data de edição? Não sabiam se estava definida ou se algum dia o estaria. "Como é que podemos voltar a ganhar controlo?", interrogou-se Zach Hill. Resposta: Infiltrando o "inimigo".

Com mala às costas e álbum gravado no iPhone, instalaram-se com o dinheiro que lhes restava no hotel Chateau Marmont, usado no passado pelos Led Zeppelin e no presente por Lindsay Lohan ou Katy Perry. "Todas as pessoas com quem trabalhávamos almoçavam ali, alojavam-se ali", explicam. Ficaram no Chateau dois meses, "aprendendo sobre a hierarquia social de Hollywood". Sem novidades da editora, sem querer "desapontar novamente os fãs", lançaram ao mundo No Love Deep Web na lua cheia de 1 de Outubro.

Já não estão no Chateau Marmont, já não têm editora e, aparentemente, a sua casa é a carrinha de digressão. "Adoramos a 100 por cento aquilo que estamos a fazer neste momento. Defendemo-lo", explica Zach Hill. Os concertos têm esgotado.

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