Os vinhos mais caros do mundo

Foto
DR

O site Wine-Searcher, um dos mais famosos motores de busca sobre preços de vinhos, publicou recentemente uma lista com os 50 néctares mais caros do mundo. O resultado é impressionante

O caro e luxuoso exerce um fascínio que a razão muitas vezes não consegue explicar. É assim no mundo das casas, dos automóveis, das jóias, e do mais que se quiser. Nos vinhos o panorama é igual. Quem está disposto e dar, em média, largas centenas de euros por uma garrafa de vinho? Consumidores existem, claro, porque os vinhos estão aí à venda e vão rodando. Quem o diz é o site Wine-Searcher (www.winesearcher.com), que compilou uma lista elaborada com base nos preços praticados por uma multiplicidade de lojas de vinho on-line por todo o mundo. Ao todo falamos de quase 37.000 listas de vinhos! Os preços estão actualizados para Julho de 2012 e indicam o custo médio de uma normal garrafa de 7,5 dl. Não foram considerados anos e/ou colheitas em particular, apenas marcas, nem preços de leilão. No total estamos a falar de um volume superior a 5.4 milhões de vinhos!

A lista está ordenada por hierarquia de preços médios (em dólares, mas aqui passaremos a usar os euros ao câmbio actual) e é encabeçada, a grande distância por um vinho de Henri Jayer, o Richebourg Grand Cru, da Cote d"Or (Borgonha). O preço médio para uma garrafa deste vinho é superior a 11.000 euros (!). Estes vinhos tintos (de Pinot Noir) foram feitos por Henri Jayer, produtor que faleceu em 2006.

Uma olhada rápida à lista confirma-nos que, nos 50 mais caros, 45 são franceses. E destes, 37 são da região da Borgonha. Apenas dois vinhos americanos, um alemão, um português e um australiano combatem a total hegemonia gaulesa. Não existe um único vinho italiano ou espanhol, por exemplo. Para encontrarmos o único vinho português temos que descer até ao 47º lugar, onde o Vinho do Porto Quinta do Noval Nacional defende as cores lusas, com um preço médio de 710 euros. Já agora, o preço médio mais barato nesta lista é de 700 euros a garrafa.

Como é possível que isto seja assim? Só os franceses conseguem fazer vinhos caros?

Para o descobrir fomos falar com três especialistas do mercado, que lançaram alguma luz sobre este "mistério".

O raro, o bom e o marketing

Raul Riba d"Ave é sócio gerente da Direct Wine, empresa que importa vinhos da Borgonha. Segundo ele, o segredo dos preços dos mais caros vinhos da Borgonha reside em dois factores: longevidade e raridade. Diz Raul que "são vinhos das melhores parcelas desta região francesa, vinhos com fama histórica, com capacidade de se manterem em garrafa por muito tempo e feitos em quantidades minúsculas (em alguns casos 1.000 garrafas, outros 5.000, mas nunca mais de 7.000 a 10.000 garrafas)." Raul considera ainda que os preços aumentaram depois do mercado americano, e mais tarde o asiático, se terem começado a interessar por estes vinhos, fazendo aumentar a procura. José Bento dos Santos concorda com o tema raridade: "dos 10 mais caros, só o Pétrus produz algumas dezenas de milhar de garrafas; todos os outros representam produções muito pequenas". José Bento dos Santos será certamente o mais conhecido gastrónomo português e provavelmente o lusitano "não profissional" que melhor conhece o mundo da alta cozinha.

Bento dos Santos é ainda produtor de vinhos na região de Lisboa e possui uma garrafeira invejável. "Não me surpreende nada que, da lista dos 50 mais caros, 45 sejam franceses", atira-nos. "É preciso ver que os franceses têm dois séculos e meio no mercado de vinhos, de promoção e marketing, que inclui os leilões nas maiores casas do mundo". E José Bento dos Santos tem razão: países como a Chile ou a Argentina têm pouco histórico, tal como a Espanha ou a Itália, "cujos vinhos mais conhecidos são relativamente modernos".

O gastrónomo indica que o preço destes vinhos atinge estes patamares porque "existem pessoas dispostas e com capacidade para o pagar. Portanto, não t tem necessariamente a ver com a qualidade do vinho mas quase exclusivamente com questões de mercado". O que não significa que os vinhos não tenham qualidade: "se os vinhos não tivessem classificações extraordinárias por toda a imprensa especializada, esses preços não se conseguiriam manter", refere Bento dos Santos, que acrescenta: "uma parte dos compradores são apreciadores mas outros vão atrás e até bebem esses vinhos misturados com Coca-Cola, como o Abramovich!". Bento dos Santos já bebeu sete dos dez mais caros."Qualquer destes vinhos deu-me um prazer e emoção que foi para além das suas características intrínsecas; sei que estou a beber um vinho raro e isso exerce uma influência psicológica".

Vicente Themudo de Castro reconhece também a qualidade dos bons vinhos da Borgonha ("um terroir invejável, uma cultura vínica única") mas junta-lhe outros factores de mercado: "o preço é relativo, sendo apenas um elemento especulativo, que pode ser atribuído pela raridade, marca ou região, sendo, em primeira análise, definido pelo produtor/distribuidor, mas por último ajustado pelo mercado". Vicente sabe do que fala: ele exerce tarefas de gestão no restaurante Porto de Santa Maria, que possui uma das melhores garrafeiras de Portugal, com milhares de referências. Vicente possui uma colecção privada de alguns vinhos franceses de topo e oficia ainda como crítico gastronómico e de vinhos. Dos dez mais caros, ele já provou quatro.

Mestres da promoção

Resumindo, um misto de raridade, promoção e qualidade intrínseca fazem com que alguns vinhos atinjam preços verdadeiramente astronómicos no mercado internacional. Podemos acrescentar-lhes factores menos positivos, como a especulação ou o snobismo financeiro. Mas não interessa. Tal como o fazem com jóias, roupas ou queijos, os franceses são mestres a promover o luxo. E fazem-no há mais tempo, e melhor, do que qualquer outro país e/ou organização. Em que outro país, aliás, se conseguiam vender vinhos ainda em estágio e a custar centenas de euros por garrafa?

Sugerir correcção