Parar para respirar na Catalunha

Artur Mas perdeu o controlo. Agora, é a esquerda nacionalista a ditar as regras do separatismo

O presidente da Catalunha, Artur Mas, obteve nas eleições deste domingo uma vitória de Pirro. A proposta de convocação de um referendo sobre a criação de um "Estado próprio" foi ratificada pelos eleitores. Só que para lá do retrato global, há leituras parcelares que prometem tornar muito mais árdua a convocação do referendo e, principalmente, uma vitória soberanista na consulta. Em primeiro lugar porque a força motriz deste processo separatista, Artur Mas e o seu partido, a CiU, não só não conseguiram obter a "maioria excepcional" que reclamaram como sofreram uma pesada derrota. Se hoje o Parlamento permanece dominado pelos separatistas essa condição deve-se à duplicação dos votos da Esquerra Republicana e à triplicação dos resultados dos Ciutadans. Até agora, quem estava no comando da separação era um partido conservador e próximo das elites económicas; após as eleições o caminho da secessão ficou refém de movimentos nacionalistas mais radicais. Artur Mas, que continuará a governar, terá de cumprir a sua promessa eleitoral. O referendo parece inevitável. O eleitorado moderado da Catalunha, já assustado com a certeza de que a independência implicará a saída da UE, terá, no entanto, mais razões para recear o separatismo. O regresso às negociações com o Estado espanhol tornar-se-á por isso uma alternativa, quer para os catalães, quer para o PP de Mariano Rajoy, que nos últimos anos se assumiu como o baluarte da arrogância castelhana perante os pedidos de um novo estatuto catalão ou da renegociação do pacto fiscal. Para todos os efeitos, para uma Ibéria a braços com uma crise profunda o abrandamento do independentismo é uma boa notícia. O pior que podia acontecer a Espanha (e por contágio a Portugal) era um processo de desagregação desencadeado por um dos mais devastadores vírus da História: o vírus do nacionalismo.

Um novo estado de emergência?

Durante décadas, o Egipto de Mubarak foi governado sob um estado de emergência que apenas foi revogado após a revolução que acabou com a ditadura e permitiu, pela primeira vez, a eleição democrática de um Parlamento e de um Presidente. Mas esse Presidente democraticamente eleito, Mohamed Morsi, decretou para si mesmo o exercício de poderes ilimitados, que nenhuma entidade pode anular. Acusado pela oposição de se comportar como um ditador e enfrentando os protestos da Praça Tahrir que depôs Mubarak, Morsi disse aos egípcios que exercerá esses poderes provisoriamente. Mas isso deixou no ar o temor de um regresso ao passado. E que, tal como na era Mubarak, o exercício excepcional de poderes excepcionais se transforme num estado de emergência permanente. Isso significaria o fim das esperanças democráticas abertas pela Primavera Árabe e um intolerável regresso ao passado.

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