A Oeste de Memphis

Os factos: em 1993, três adolescentes de West Memphis, no estado do Arkansas, foram presos e acusados do assassínio de três meninos de oito anos; dois foram condenados a prisão perpétua, um à pena de morte. Com o tempo, contudo, foram vindo ao de cima provas de que os três condenados não seriam os verdadeiros autores do crime mas sim bodes expiatórios incriminados pela polícia local com provas circunstanciais, levando a uma campanha internacional pela sua libertação que contou com o apoio de gente como Eddie Vedder, Johnny Depp, Henry Rollins ou Patti Smith.


O documentário de Amy Berg - o quarto sobre o caso após os três filmes realizados para o canal HBO por Joe Berlinger e Blake Sinofsky - é um “resumo” dos quase 20 anos de esforços que levaram, há poucos meses, à libertação dos três prisioneiros, e foi produzido por Peter Jackson, que ao longo da última década acompanhou o caso e fez parte da coligação internacional a favor dos Três de West Memphis. A Oeste de Memphis começa por construir-se como um “mistério em marcha atrás”, desmontando e refutando com provas factuais as acusações aos três rapazes, aproveitando para desenhar um retrato das divisões sociais na América moderna e dizendo mais sobre a diferença entre os estados “liberais” e “republicanos” do que dezenas de reportagens e análises. Mas é também um filme que, talvez pela necessidade de concentrar tantas histórias em duas horas e meia, nunca encontra um centro estável e acaba por parecer amostra de documentários à espera de serem feitos. Fica a eficácia funcional da forma e o retrato sem papas na língua de uma América profunda, mas insuficientes para o erguerem ao nível do espantoso Into the Abyss de Werner Herzog.

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