Parceiros sociais lamentam falta de sensibilidade da troika para rever programa

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Os representantes da troika (na foto à saída da reunião de Setembro) voltaram a encontrar-se com os parceiros sociais Daniel Rocha

Os parceiros sociais lamentaram nesta terça-feira a falta de sensibilidade da troika para a revisão do memorando de entendimento e consequente alargamento dos prazos para que Portugal possa cumprir os compromissos acordados com os credores internacionais.

No final do encontro, que durou perto de três horas, no Conselho Económico e Social, UGT, CGTP e Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) falaram a uma só voz, dizendo que os representantes da Comissão Europeia (CE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) ouviram as suas preocupações, mas nada disseram perante os apelos feitos pelas estruturas sindicais e, no caso, pela confederação liderada por Vieira Lopes.

"A troika ouve muito, mas fala pouco", disse este responsável, acrescentando que “no pouco que falou não se mostrou receptiva ao essencial” das propostas da CCP que se prendem com "a revisão do acordo”.

“Na nossa opinião, o acordo é irrealista, não está adaptado à situação económica portuguesa e produziu o desastre a que nós assistimos neste último ano”, disse Vieira Lopes, referindo que questionou também os credores internacionais sobre se acreditam neste Orçamento do Estado para 2013.

E especificou: “Perguntamos à troika se acreditavam neste Orçamento, se era realista e exequível e como é que, sendo exequível, já se está a discutir o corte de 4 mil milhões de euros. Deu uma resposta incipiente, que acreditava, mas que se trata de decisões do Governo português”.

Ao longo de três horas, foram muitas as questões e também a UGT perguntou aos representantes da troika sobre a necessidade de antecipar para Fevereiro o corte de 4 mil milhões de euros quando, inicialmente, o Governo tinha mencionado efectuar este corte até 2014.

“Questionámos muito a troika relativamente ao corte de 4 mil milhões de euros e se confirma ou não que, de facto, os 4 mil milhões de euros são iniciativa do Governo e que esta matéria tem de ser decidida até Fevereiro. Quem cala consente. Questionámos e eles calaram”, afirmou João Proença.

No entender do secretário-geral da UGT, “não faz sentido que o que a troika tinha apontado - cortes da despesa até 2014 - agora apareça como um ultimato até Fevereiro”, considerando tratar-se de “um ultimato do Governo aos portugueses, à função pública, ao Estado social”.

Também a CGTP lamentou o facto de as propostas da central não terem sido acolhidas pela troika.

“São surdos, são cegos e só não são mudos porque são obrigados a falar aqui na concertação”, disse Arménio Carlos, acrescentando que estas reuniões “só servem à ‘troika e ao Governo”.

Transmitiram aos representantes internacionais que “a actual política é errada” e propuseram, por isso, a renegociação da dívida, "o que não foi aceite", segundo Arménio Carlos.

Afastada está a possibilidade, segundo disseram aos jornalistas, de rever as metas acordadas com o Governo português, quer no que se refere à revisão do memorando, quer no que diz respeito ao prolongamento das datas para que Portugal cumpra o acordado.

Os parceiros sociais estiveram reunidos desde as 15h com os representantes da troika no Conselho Económico e Social (CES), no âmbito da sexta avaliação ao Programa de Ajustamento Económico e Financeiro.

O último encontro tinha sido a 3 de Setembro, no âmbito da quinta avaliação.

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