"Estado tem-se furtado a compensar” militares que combateram na Guerra do Ultramar

O presidente do núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes disse este domingo que “o Estado tem-se furtado a compensar” os militares que combateram na Guerra do Ultramar, considerando que “estão condenados a morrer” sem apoio.

“Tem sido pura e simplesmente ignorada a Constituição e o Estado tem-se furtado a compensar aqueles que, ao serviço da pátria e na defesa dos territórios ultramarinos, deram o seu melhor”, afirmou Bernardino Laureano, junto ao monumento aos mortos da Grande Guerra, no Funchal, onde decorreu a cerimónia que assinalou o 38.º aniversário do fim da Guerra do Ultramar.

Na iniciativa, que assinalou também o 94.º aniversário do Armistício e os 89 anos da Liga dos Combatentes, o responsável referiu que “durante os 15 anos de guerra perderam a vida cerca de 10 mil soldados” e “ficaram feridos cerca de 50 mil, alguns dos quais com extrema gravidade”.

“Para a maioria, ter integrado os contingentes militares que partiram além-mar na defesa dos territórios que se diziam ser portugueses foi, de certa forma, muito violento e mais violento ainda tem sido a maneira como os combatentes têm sido tratados, particularmente os que ainda hoje sofrem de doenças provocadas pelo efeito de uma guerra para a qual não contribuíram”, continuou Bernardino Laureano.

O presidente do núcleo do Funchal explicou que, com a Revolução de 25 de abril de 1974, o Estado procedeu “à desmobilização geral” e apoiou, “dentro do possível, através dos hospitais militares e da Segurança Social, os combatentes que apresentavam maiores cuidados, quer de saúde, quer de integração social”.

Porém, acusou Bernardino Laureano, esqueceu, “por completo, os restantes e complica a vida aos que, ao longo dos 38 anos após o fim da Guerra do Ultramar, começaram a sofrer de doenças provocadas pela sua permanência ao serviço nas Forças Armadas”, de que destacou o stresse pós-traumático.

“Divorcia-se dos combatentes, esquecendo-os e deixando-os abandonados, sofrendo as consequências por terem, como cidadãos, cumprido com o que lhes foi pedido”, adiantou, frisando que “ingratidão” foi o que “o poder político instalado após o 25 de abril fez” ao “esquecer os milhares de soldados mobilizados para o Ultramar”.

Para o dirigente, os combatentes, em especial os que prestaram serviço no Ultramar, estão, hoje em dia, “condenados a morrer sem o apoio do Estado”, exemplificando com a saúde e com “burocracia instalada”.

Neste campo, Bernardino Laureano apontou a “resolução de processos que se prendem com a prestação de serviço no Ultramar que, por vezes, demora anos, anos e anos dentro de secretárias à espera que o requerente ‘bata a bota’”.

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