A crise bateu à porta da Alemanha, avisa o presidente do BCE

A Alemanha tem resistido à crise das dívidas soberanas, mas o abrandamento económico da zona euro mostra que já não está imune às dificuldades. A leitura é feita em tom de alerta pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, para quem “não é uma surpresa” que a crise esteja a bater à porta da primeira economia europeia.

O facto de começar a sentir este impacto negativo deve levar a Alemanha a aceitar que as medidas tomadas em conjunto pela zona euro para garantir a estabilidade da moeda única também a beneficiam, sustentou o líder do BCE, num congresso em Frankfurt.

Ao mesmo tempo que revelou alguma apreensão face aos últimos dados macroeconómicos da Alemanha, Draghi serviu-se desse facto para justificar e defender as últimas decisões de política monetária do BCE, sublinhando que a própria Alemanha terá a ganhar com a compra ilimitada de dívida pública – uma medida que o BCE tomou em nome da “estabilidade da área do euro”.

É a segunda vez, em três semanas, que Mario Draghi procura tranquilizar a opinião pública alemã em relação ao programa de compra de obrigações de países em dificuldades. Mas, desta vez, acrescentou à mensagem uma preocupação: por estar muito exposta a economias da zona euro em desaceleração económica, a Alemanha começa a sofrer os efeitos da crise.

“Os acontecimentos financeiros na Alemanha são o espelho dos acontecimentos financeiros no resto da zona euro. E isto significa que as medidas para assegurar a estabilidade da zona euro no seu conjunto também beneficiarão a Alemanha”, acrescentou, segundo o discurso disponibilizado no site do BCE.

“Até agora, a Alemanha tem estado largamente isolada de algumas das dificuldades”, mas o facto de ser “uma economia aberta e integrada” não a deixa imune à desaceleração do resto da zona euro. O comércio entre os países da zona euro representa cerca de 40% do seu Produto Interno Bruto (PIB) e cerca de 65% do Investimento Directo Estrangeiro na Alemanha é realizado por países que pertencem à moeda única, lembrou.

“As pequenas e médias empresas – e os bancos que as financiam – são a espinha dorsal da economia alemã”. E o seu sucesso, disse, tem “uma importância vital – não apenas para a Alemanha, mas também como factor-chave para o crescimento e o emprego na zona euro como um todo”.

A mensagem de Mario Draghi chega no dia em que a Comissão Europeia anunciou que cinco países da moeda única estarão em recessão em 2013 – entre eles Portugal – e que todas as economias vão ter um desempenho pior do que o previsto até aqui. O conjunto dos 17 países da zona euro vai estagnar. A Alemanha deverá continuar a crescer, mas apenas 0,8%, quando o Governo de Angela Merkel mantém a previsão de um crescimento de 1% do PIB (o FMI aponta para 0,9%).

Dias depois de a chanceler alemã defender as políticas de austeridade, pedindo mais cinco anos de esforço para a Europa superar a crise, Draghi falou de forma genérica sobre os sinais “encorajadores” que vê na zona euro. Defendeu, sem especificar países, que os governos estão a actuar “com determinação para resolver os desequilíbrios económicos”. Mas reconheceu: “É um caminho difícil e ainda há um longo caminho a percorrer”.

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