Prémio Valmor distingue duas estações de metro e Manuel Salgado

Banco Mais, em Lisboa, igualmente distinguido
Fotogaleria
Banco Mais, em Lisboa, igualmente distinguido
Escola Superior de Música, concebido por Carrilho da Graça, no campus de Benfica
Fotogaleria
Escola Superior de Música, concebido por Carrilho da Graça, no campus de Benfica
Estação de metro do Cais do Sodré, por Teotónio Pereira e Pedro Botelho
Fotogaleria
Estação de metro do Cais do Sodré, por Teotónio Pereira e Pedro Botelho Fotos: Rui Gaudêncio
Estação de Metro do terreiro do Paço, projectada por Artur Rosa
Fotogaleria
Estação de Metro do terreiro do Paço, projectada por Artur Rosa
Hospital da Luz, concebido por Manuel Salgado
Fotogaleria
Hospital da Luz é uma das unidades da ES Saúde Rui Gaudêncio

Vice-presidente da Câmara de Lisboa ganha prémio pela terceira vez. Outros notáveis como Teotónio Pereira, Gonçalo Byrne e Carrilho da Graça também contemplados nas edições 2007-2009.

O arquitecto Manuel Salgado vai receber pela terceira vez na sua carreira o prémio Valmor de arquitectura. O júri distinguiu o também vice-presidente da Câmara de Lisboa pelo Hospital da Luz, em Carnide, um trabalho que fez com a sua equipa do atelier Risco para o grupo Espírito Santo antes de se mudar para os Paços do Concelho.

Esta semana serão divulgados os Valmor das edições entre 2007 e 2009. O enorme lapso de tempo que medeia a concretização das obras e a sua distinção com este galardão - já sucedeu o Valmor premiar edifícios em funcionamento há década e meia - relaciona-se sobretudo com as burocracias camarárias ligada à emissão das licenças de utilização dos edifícios.

Desta vez o júri, composto por várias figuras ligadas à arquitectura e às artes, elegeu pela primeira vez duas estações de metropolitano: a do Cais do Sodré, um trabalho da dupla Teotónio Pereira/Pedro Botelho, e a do Terreiro do Paço, desenhada por uma figura bem menos mediática, Artur Rosa. Pedro Botelho sublinha o entrosamento entre a arte - os coelhos apressados gigantes da Alice no País das Maravilhas do pintor António Dacosta, já falecido -, a arquitectura e a engenharia presente neste trabalho, no qual participaram engenheiros do metro de S. Paulo. E também os jogos de luz e sombra usados para assinalar o caminho aos passageiros em todo o interface de transportes, concebido pela mesma dupla. "O fascínio de uma obra destas é estarmos a trabalhar com grandes quantidades de gente que se move", descreve. "E que tem de perceber num relance, quase de forma automática, para que lado ficam as saídas e onde está o comboio. Daí a clarabóia da estação do metro. O trabalho é uma glorificação do caminho para a luz".

Pedro Botelho revela também alguns aspectos menos conhecidos do projecto do interface, que demorou década e meia a ser feito: o túnel subterrâneo que desenhou com Teotónio Pereira para permitir aos passageiros atravessar a Av. 24 de Julho em segurança, em direcção à zona do mercado da Ribeira, nunca foi construído. "O desastre do Terreiro do Paço fez o Metropolitano recuar nalguns aspectos", justifica. E apesar de o país ainda não se encontrar mergulhado na actual crise económica, foram várias as vezes que a empreitada, que inclui a estação fluvial, teve de parar devido à falta de verbas. Mesmo assim, o conjunto acabou por ser "tão homogéneo quanto possível", em grande parte devido ao predomínio do cinzento do betão não pintado.

A luz é, de resto, também um aspecto fundamental do projecto de Manuel Salgado. O arquitecto cita Corbusier, que via nos hospitais verdadeiras máquinas destinadas a recuperar a saúde, para falar das virtudes terapêuticas da claridade que entra pelas janelas da unidade de saúde. O programa funcional do Hospital da Luz, que se intitula como a maior e mais moderna unidade privada deste género do país, foi desenvolvido por um arquitecto catalão, de forma a permitir que o edifício seja facilmente adaptável às novas tecnologias. Se houver um sismo é para aqui que todos os lisboetas devem fugir: um sistema de apoios elásticos em borracha entre o chão e o edifício faz com que tenha uma resistência inaudita aos tremores de terra, descreve Manuel Salgado.

Situada na Av. 24 Julho, defronte do rio, a sede do antigo banco Mais, hoje Banif, é outra das obras premiadas. Foi concebida por outro notável da arquitectura portuguesa, Gonçalo Byrne, num trabalho que o arquitecto prefere designar como "reciclagem" em vez de reabilitação. A intervenção consistiu em transformar um antigo armazém do séc. XIX, da altura em que as águas do Tejo ainda aqui batiam, num edifício de escritórios. A solução encontrada por Gonçalo Byrne passou por meter um edifício de vidro dentro das paredes do velho armazém, que foi "forrado com uma trepadeira virada para o interior do imóvel". Mas os artifícios vegetais não ficaram por aqui: na cobertura do antigo armazém foi plantado um jardim suspenso, visível do terraço do Museu de Arte Antiga, situado imediatamente acima. "É preciso muito cuidado quando se trabalha na zona histórica da cidade", avisa o arquitecto, realçando a importância de valorizar o diálogo entre a obra nova e a pré-existente. O sucesso do projecto, mediu-o acima de tudo pelos "grandes elogios das pessoas que foram para ali trabalhar". Tal como Manuel Salgado, tanto Byrne como Teotónio Pereira não são virgens em matéria de prémios Valmor. O mesmo sucede com outro premiado destas três novas edições, Carrilho da Graça. Desta feita, foi a Escola Superior de Música, no campus de Benfica do Politécnico de Lisboa, que lhe valeu a distinção. As suas intenções ao pousar na relva este gigante branco, descreveu-as assim a uma publicação da especialidade: "Queria que esta escola de música tentasse levar aos limites a possibilidade da excelência acústica - e também o isolamento conventual e sonoro de cada espaço - e a convivialidade e extroversão que também são características de algumas práticas musicais"

Como? "A afirmação mais clara do projecto consiste na criação de um espaço exterior - um grande pátio com relva - construído por um volume com uma altura progressivamente maior que o protege do ruído exterior", explicou na altura. "Exteriormente este volume é quase cego, excepto nos ângulos, em que grandes envidraçados fazem explodir no retirado interior as vistas do exterior suburbano"

Mas as distinções do prémio Valmor não ficam por aqui: o júri decidiu ainda atribuir várias menções honrosas, uma das quais outra vez a Carrilho da Graça por um projecto de habitação no número 14 da Rua do Quelhas. Autor da mesquita de Lisboa, João Paulo Conceição é, embora a título póstumo, outro destinatário das menções honrosas, desta vez graças a um trabalho feito em Santos, no número 3 da Rua das Janelas Verdes. Um projecto de residências infantis, a casa Ronald McDonald, junto ao hospital da Estefânia, é outro galardoado. Fê-lo a arquitecta Maria Alvarez. Uma das reabilitações do controverso programa Parque Escolar receberá outra das menções honrosas. Trata-se da Escola Secundária D. Dinis, em Chelas, cujos volumes curvos resultantes do revestimento de edifícios a chapa ondulada branca são da responsabilidade do atelier Bak Gordon Arquitectos. Victor Mestre e Sofia Aleixo são uma dupla que recuperou uma habitação da Rua da Amendoeira, em Alfama, e isso também lhes valeu um destes prémios.

Outro nome prestigiado da arquitectura portuguesa, Bartolomeu Costa Cabral, recebeu outra menção honrosa pelo trabalho desenvolvido na reconstrução de uma moradia unifamiliar na Travessa da Oliveira à Estrela. As duas últimas menções honrosas do ano de 2009 premeiam nomes sonantes da arquitectura portuguesa: Frederico Valsassina, responsável por um novo edifício de estúdios para a RTP na Avenida Marechal Gomes da Costa, e Manuel Aires Mateus, com um edifício de escritórios na Rua do Mar da China, no Parque das Nações.

Criado há mais de um século, o Valmor surge na sequência do testamento do segundo e último visconde de Valmor, diplomata, político, governador civil de Lisboa e apreciador de belas artes.

Sugerir correcção
Comentar