Bartok e a sedução da Orquestra Casa da Música

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Emilio Pomàrico esteve à frente da orquestra joão messias/Casa da música

O Concerto para Orquestra (1943) de Bartok foi a obra com que a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) melhor se fez ouvir no seu concerto de sábado.

Foram as cordas que abriram os portões para uma obra bastante bem preparada. Encontrou-se suprema delicadeza onde era suposto encontrá-la; ouviu-se energia máxima onde era suposto ouvir-se; sentiu-se a atmosfera escura e a solenidade onde a partitura apelava. Apenas no quarto andamento se sentiu algum desconforto perante o contraste de proporções inesperadas entre o tempo talvez demasiado lento e o accelerando um pouco acentuado - uma nota pessoal do maestro que não anulou o efeito de andamento arejado, com respirações bem doseadas no diálogo dos sopros e que, a nível geral, resultou num excelente trabalho.

Havia tempo que não se ouvia na OSPCdM um solo de clarinete como o primeiro breve momento em que o instrumento se destaca na Introdução. Não é que outros instrumentos, como a flauta e o trombone, não tivessem já prestado melhores provas alguns compassos antes, mas a surpresa é inversamente proporcional à expectativa. Momentos absolutamente dignos de nota encontraram-se com bastante frequência: naipes inteiros a cumprir o seu papel com rigor, como as irrepreensíveis trompas a iniciar o Finale, solos impressionantes como o da caixa no segundo andamento. Não deixou de haver deslizes muito pontuais, mas não chegaram a perturbar o conjunto, como a primeira entrada dos trompetes na Introdução e uma secção das violas no Intermezzo.

Vivida uma segunda parte tão intensa, é difícil recordar ainda a música que precedeu o intervalo, com um Stravinsky um tanto árido na interpretação de Pomàrico e a OSPCdM das Sinfonias para instrumentos de sopro (1920 - rev.1947), sucedido pelo aguardado superquarteto de cordas que Pascal Dusapin compôs com o suporte financeiro da Casa da Música e outras instituições estrangeiras. O Quarteto VI - Hinterland para quarteto de cordas e orquestra (2008-09) não ultrapassou afinal os 20 minutos, com diversas secções caracterizadas por uma elegante orquestração, outras um pouco mais pobres nesse mesmo aspecto. Para além de momentos de evidente fusão instrumental, sobressaiu ao ouvido a regularidade e um vasto conjunto de déjà vu harmónicos, não raramente associados ao ingrediente de extremo apelo físico que é o da sensação de marcada pulsação. É interessante a ideia de Dusapin de ter um quarteto de cordas interpretado por uma orquestra que o expande - de facto, tal como o compositor deseja, a audição da obra não faz pensar num concerto para quarteto de cordas e orquestra (cujo equilíbrio é, por sinal, bastante difícil de alcançar, como já outros compositores tão bem o sentiram no fracasso de algumas partituras).

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