Nordeste dos EUA fustigado pelo furacão Sandy

Silhueta de Manhattan com o céu carregado
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Manhattan é uma das zonas da cidade que vai ter este sistema instalado Eduardo Munoz/Reuters
as previsões indicam que o furacão ainda não mostrou todo o seu poder destrutivo
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as previsões indicam que o furacão ainda não mostrou todo o seu poder destrutivo Shannon Stapleton/Reuters
Battery Park, Nova Iorque
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Battery Park, Nova Iorque Brendan McDermid
Nova Iorque
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Nova Iorque Brendan McDermid/Reuters
Rehoboth Beach, Delaware
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Rehoboth Beach, Delaware Jonathan Ernst/Reuters
Virginia Beach, Virginia
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Virginia Beach, Virginia Joseph Facun/Reuters
South Long Beach Avenue, Freeport, Nova Iorque
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South Long Beach Avenue, Freeport, Nova Iorque Bruce Bennett/Getty Images/AFP
Jefferson Memorial, Washington
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Jefferson Memorial, Washington Gary Cameron/Reuters
Rehoboth Beach, Delaware
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Rehoboth Beach, Delaware Jonathan Ernst/Reuters

O furacão Sandy atinge a costa Nordeste dos EUA, onde vivem 50 milhões de pessoas, com ventos muito fortes e chuvas intensas. Os estados por onde vai passar o furacão preparam-se para uma noite de tempestade com rajadas que podem atingir mais de 150 quilómetros por hora. Mais de 2,2 milhões de pessoas ficaram sem energia eléctrica e multiplicam-se as quedas de árvores que já fizeram um morto em Queens, Nova Iorque, de acordo com a CNN.

O Centro norte-americano de Furacões anunciou entretanto que o Sandy deixou de ter a classificação de furacão e transformou-se numa tempestade pós-tropical.

A tempestade já fez 66 mortos à passagem pelas Caraíbas. Nove estados dos EUA declararam o estado de emergência. Ao todo, já foram cancelados mais de 7 mil voos por causa do furacão e mais de 375 mil pessoas receberam indicações para abandonarem as suas casas, especialmente aquelas que ficam situadas junto de rios ou do oceano.

Em Nova Iorque, os transportes públicos estão parados, as escolas, lojas e muitos serviços estiveram fechados. Em Manhattan, as autoridades cortaram parcialmente a energia como medida de precaução.

Segundo os serviços meteorológicos, a extensão da tempestade, a baixa velocidade a que se desloca (30km/hora) e a confluência com uma frente fria proveniente do Canadá tornam-na particularmente perigosa.
"Neste momento o vento está muito intenso, a chuva começou a ficar mais forte, a apreensão é maior daqui para a frente", disse ao PÚBLICO, ao início da tarde, princípio de noite em Lisboa, Ane Soares, uma brasileira que vive em Queens.

“Estão todos com muito receio da maré alta. A cidade está completamente paralisada: não há transportes, alguns túneis estão fechados e a seguir devem começar a encerrar pontes”, acrescenta Bernardo Moura, também em declarações ao PÚBLICO, por telefone.

A princípio, pensava-se que era possível que a cidade regressasse à normalidade a meio do dia de amanhã, terça-feira. Mas não será assim: “Só quarta é que as coisas vão voltar a estar mais normais. Haverá mais um dia de paralisação na cidade inteira. Mas a noite de hoje [segunda-feira] será o pior”, continua o médico português de 25 anos, que se encontra em Nova Iorque de férias.

Um dos primeiros efeitos dos fortes ventos foi a queda parcial de uma grua, no centro de Nova Iorque. O acidente, que não causou vítimas, ocorreu no estaleiro de uma obra de luxo, na esquina da 7ª Avenida com a rua 57.

Para já, o Sandy é menos poderoso que o Katrina, que devastou Nova Orleães em 2005. Porém, as previsões indicam que o furacão ainda não mostrou todo o seu poder destrutivo. Estimativas da empresa Egectat indicam que os prejuízos poderão ser de 10 a 20 mil milhões de dólares (7,7 a mais de 15 mil milhões de euros).

O Presidente, Barack Obama, pediu aos compatriotas para levarem “muito a sério” o perigo. Cancelou uma deslocação à Florida e regressou à Casa Branca para participar numa reunião de crise. Chegou a ser anunciado que poderia fazer uma declaração televisiva nesta segunda-feira.

Após a reunião de crise, em que foi informado da trajectória do furacão e esteve em contacto com governadores e outros responsáveis, disse aos repórteres que "a prioridade é salvar vidas"e chamou a atenção para a necessidade de as pessoas seguirem as instruções das autoridades – "quando vos dizem para sair, devem sair ". O Presidente manifestou-se "confiante" na preparação feita para a passagem do Sandy

Manhattan acordou nesta segunda-feira como uma ilha fantasma, à espera da tempestade que, segundo algumas previsões, poderá ser a mais forte de sempre a atingir território norte-americano. Os transportes estão parados, as escolas fechadas, o alerta em nível máximo. Em Boston, Filadélfia e New Jersey a situação é semelhante.

Bernardo Moura estava numa zona de “evacuação obrigatória”, em Brooklyn, e mudou-se para casa de uns amigos, em Manhattan, onde vai passar estes dias de mau tempo. Têm provisões para “um dia ou dois” sem acesso a electricidade ou gás. Um dos amigos ainda passou pelo supermercado, ontem, mas desistiu: “as filas eram gigantescas”.

Apesar de tudo, na ilha, “vê-se gente na rua". "Os ventos não são tão fortes aqui. A chuva, também não. O que preocupa mais as pessoas são as inundações, junto ao rio e ao mar. No meio da cidade, com prédios tão altos, consegue-se andar", observa o médico português.

A realizadora brasileira Karen Sztajnberg está em Brooklyn, em sua casa – e aí vai ficar. Por sugestão da directora da escola do filho, tem à mão uma bolsa com documentos, chaves extra e lanterna, para o caso de ser necessária uma evacuação rápida. A precaução também a levou a encher a banheira de água. É possível que o abastecimento seja cortado durante algum tempo.

Sztajnberg também passou pelo supermercado, mas já não encontrou pão e leite só tinha sobrado o de baixa lactose. Mas nem tudo são problemas. “As pessoas estão aproveitando para pôr a vida social em dia”, diz ao PÚBLICO. “Está todo o mundo em casa, na Internet. Há pouco uma amiga estava publicando no Facebook fotografias de duas tartes de maçã. Está numa aventura culinária até a tormenta passar.”

As áreas mais sensíveis

A transportadora Amtrak suspendeu as ligações ferroviárias e por estrada junto à costa e 11 mil voos internos e internacionais foram anulados. Moradores das zonas para onde o furacão avança passaram as últimas horas a proteger casas ou a fugir das zonas baixas e costeiras – onde a água é tão ou mais perigosa que o vento.


Segundo as agências, a guarda costeira teve de salvar 14 pessoas de um navio em dificuldades, que navegava a 260 km do centro do furacão, com ajuda de helicópteros. Os outros dois tripulantes continuam desaparecidos.

O governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, anunciou o encerramento de dois dos três túneis de Manhattan, devido ao risco de inundação. O “mayor”, Michael Bloomberg que no domingo ordenou a evacuação das zonas mais susceptíveis de serem inundadas, onde vivem 375 mil pessoas, voltou a repetir a necessidade de deixarem as casas. Mas muitos ignoraram o apelo.

Se ainda não o fizeram “e têm meio de partir, façam-no imediatamente”, disse, numa conferência de imprensa. “É uma tempestade que pode facilmente matar-vos”, insistiu. O “mayor” lembrou que foram abertos centros de acolhimento em 76 escolas, com um total de 16 mil camas. Mas na noite de domingo só três mil foram ocupadas. As áreas mais sensíveis em Nova Iorque são o sul de Manhattan, e várias áreas costeiras de Brooklyn e Staten Island.

A generalidade dos residentes no Nordeste dos Estados Unidos preparou-se para a chegada do Sandy. Foi o que aconteceu com Ane Soares, que há 15 anos vive nos Estados Unidos: comprou comida enlatada, cereais e outros alimentos "não perecíveis", além de lanternas e pilhas "para o caso de faltar luz".

O furacão já foi rebaptizado como Frankenstorm, devido à força que a tempestade (storm em inglês) pode ter – e em alusão a Frankenstein, o personagem de terror que liga muito bem à festa do Halloween, que está aí mesmo à porta e se celebra de quarta para quinta-feira.

Meteorologistas ouvidos pela Associated Press temem “o pior cenário possível”. Numa cidade como Nova Iorque a grande preocupação não são os ventos mas a água: ondas gigantes e marés altas que, combinadas com chuvas torrenciais, causem inundações, explicou Louis Uccellini, director de previsões metereológicas da agência nacional para os oceanos e a atmosfera. Segundo Rick Knabb, director do Centro Nacional para os Furacões, a água pode subir entre 1,8 metros e 3,4 metros nas zonas costeiras de Nova Iorque e New Jersey.

Notícia actualizada às 20h54
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