Serra do Pilar reabre as portas para promover património da Região Norte
Novo equipamento tem inauguração prevista para Dezembro. Além da promoção turística, permitirá visitar um monumento classificado como Património Mundial cujas portas estão habitualmente fechadas.
É uma espécie de ovo de Colombo: embora classificado como Património Mundial desde 1996, por ter sido acrescentado ao centro histórico do Porto no processo de reconhecimento por parte da UNESCO, o Mosteiro da Serra do Pilar, em Gaia, tem habitualmente as portas fechadas para os muitos turistas que sobem ao miradouro a partir do qual se desfruta de uma das mais impressionantes vistas sobre o troço final do Douro. A partir de Dezembro, porém, o templo passará a acolher, por iniciativa da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN), um portal de promoção do património da região junto dos visitantes que, até aqui, batiam com o nariz na porta do monumento.
As obras necessárias à criação do Portal do Património Cultural da Região Norte iniciaram-se há poucas semanas e, segundo a directora regional de Cultura, Paula Silva, deverão permitir inaugurar o equipamento durante o mês de Dezembro, embora ainda não tenha sido definida uma data para o efeito. O projecto, ontem apresentado no âmbito de uma conferência dedicada às relações entre a cultura e o desenvolvimento, envolve um investimento que ronda os 250 mil euros e resulta de um protocolo assinado há alguns meses com a comunidade cristã que gere o templo desde 1974 e que substituiu a anterior irmandade e com o Exército português, que ocupa uma parte do edifício.
O portal, explicou Paula Silva ao PÚBLICO, "permitirá melhorar a oferta turística nortenha e oferecer aos visitantes uma informação qualificada e integrada" sobre os quatro sítios da região que estão classificados pelas UNESCO: os centros históricos do Porto e de Guimarães, o Douro Vinhateiro e o Parque Arqueológico do Côa. Para além disso, o equipamento apresentará ainda, com recurso a instrumentos multimédia, elementos relativos a todos os elementos patrimoniais classificados na região, nomeadamente os monumentos mais emblemáticos (castelos, igrejas e museus) e os produtos culturais que a DRCN tem vindo a criar, como a Rota do Românico ou a Rota dos Mosteiros em Espaço Rural.
Adicionalmente, mas não menos importante, a entrada em funcionamento do Portal do Património Cultural da Região Norte vai dar utilidade a um conjunto de espaços monumentais que se encontravam devolutos. A mostra ficará instalada em duas salas, incluindo o antigo refeitório do mosteiro, permitindo ainda o acesso à capela e a realização de visitas guiadas à igreja. "As portas vão continuar fechadas, mas vai ser possível, pelo interior, visitar o templo", explicou Paula Silva, adiantando que, mediante marcação, e graças ao protocolo celebrado com o Exército, vai ser ainda possível subir ao zimbório do mosteiro, de onde se desfruta de uma vista única sobre o Porto.
Numa primeira fase, o funcionamento do portal vai ser assegurado por três funcionários especializados que estão já a receber formação para o efeito. O equipamento vai ainda permitir visualizar, em três línguas (Inglês, Francês e Espanhol), um filme especialmente produzido para o efeito, ilustrativo da riqueza patrimonial da região. Noutros monitores vão poder ser vistas imagens e informações relativas aos edifícios, numa espécie de convite à sua visita por parte dos turistas, que poderão ainda ter acesso a livros e desdobráveis que estarão disponíveis na loja anexa.
"Sabemos que muitos turistas vão à serra do Pilar e que mesmo agora, durante as obras, têm a tendência para tentarem entrar e visitar o mosteiro. Vamos tentar tirar partido disso", explicou Paula Silva ao PÚBLICO. Numa segunda fase, a existência e a finalidade do equipamento deverão passar a ser publicitadas logo no posto de turismo do aeroporto e, admite Paula Silva, em campanhas informativas pensadas para o efeito.
Abrigo de beneditinos e tropas liberaisFundado por frades agostinhos no século XVI, o Mosteiro da Serra do Pilar começou a ser construído em 1538 e apenas ficou concluído quase 130 anos depois, em 1670, apresentando um dos dois únicos claustros redondos na Península Ibérica (o outro é o do Palácio Carlos V, no Alhambra, em Granada). No século XIX, durante a guerra civil que opôs liberais e absolutistas, o templo deu abrigo às tropas que vieram a vencer o conflito.
No final, fruto dos constantes ataques, o mosteiro encontrava-se em estado ruinoso e ao abandono, tendo a sua reabilitação começado apenas durante a terceira década do século XX, no decurso do qual também ali se instalou um regimento de artilharia. No interior da igreja, salienta-se a existência de trabalhos em talha de imagens setecentistas.
Notícia corrigida às 16h46 do dia 27-10-2012. O protocolo foi causa foi celebrado com a comunidade cristã que gere o templo desde 1974 e que substituiu a anterior irmandade e não com a irmandade. O mosteiro da Serra do Pilar foi fundado por frades agostinhos, e não por monges beneditinos.