Festival de Banda Desenhada da Amadora sob o signo da autobiografia

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O clássico de culto Binky Brown Meets the Holy Virgin Mary tem direito a apresentação integral na Amadora; Portugal, do luso-descendente Cyril Pedrosa (em baixo), também merece exposição

O 23.º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora promete ser uma das melhores edições dos últimos anos. Centrado na autobiografia, inaugura hoje várias exposições imperdíveis e traz ao Fórum Luiz de Camões, até 11 de Novembro, alguns dos mais importantes nomes da banda desenhada contemporânea. A saber: Vicent Vanoli, Fabrice Neaud, Justin Green, Carol Tyler, Dominique Goblet e Edmond Baudoin. É uma lista empolgante que desagua na exposição central, comissariada por Pedro Moura, em torno do subcampo da autobiografia. Sustentada em núcleos como "o corpo", "a família", "o diário de viagem" ou a "auto-ficção", integra também a apresentação integral de Binky Brown Meets the Holy Virgin Mary (1972), de Justin Green, obra incontornável dos comix underground dos EUA. A não perder - pura e simplesmente.

A partilhar questões e elementos associados à autobiografia, mas com direito a exposições individuais, estão Portugal, Ponto de Partida e de Chegada, a partir da viagem do luso-descendente Cyril Pedrosa ao país dos seus antepassados, fixada em Portugal (2011), a obra de Paulo Monteiro (autor do premiado O Amor infinito que te tenho) e uma retrospectiva da produção de Ricardo Cabral que destaca o processo de realização de Newborn, 10 dias no Kosovo. Pesem embora algumas proximidades, são três momentos representativos da variedade de perspectivas e expressões que caracterizam hoje a banda desenhada.

E já que falamos de banda desenhada, porque não celebrar, sem vergonha, o seu lado mais popular e escapista? Homem-Aranha - 50 Anos de um Mito, cortesia da Marvel e do Museo del Fummeto, de Milão, reúne todas as condições para ser uma viagem didáctica e "juvenil" à história e ao universo do super-herói. E para os saudosos da BD franco-belga, o festival reservou ainda uma mostra consagrada a Titeuf e Happy Sex, do suíço Zepp, um dos mais bem-sucedidos autores da actualidade.

Mencione-se por fim, e com toda a justiça, a exposição subordinada a Agência de Viagens Lemming, de José Carlos Fernandes. Editada a partir de 2005 numa série de tiras no Diário de Notícias, conheceu recentemente tradução e edição espanholas (pela mão da Astiberri) e assinalou a despedida do autor da BD. Vê-la é mais do que uma homenagem. É um confronto com as fraquezas e as possibilidades do nosso círculo de criação.

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