Genesis Encore Cascais 75

O relato de um encontro geracional dentro da história de dois concertos míticos

Até houve rajadas de metralhadora disparadas para o ar: foi tão caótico quanto grandioso para quem lá esteve no primeiro dia, no segundo, ou nos dois. No Portugal da turbulência e do fervor político do PREC, um concerto - aquele concerto, com aquela banda - parecia uma impossibilidade. A geração que o viveu não tem como não se recordar: os Genesis no Pavilhão Dramático de Cascais. É essa a história que conta Genesis Encore Cascais 1975, documentário de João Dias que passa hoje, às 21h45, no São Jorge (repete dia 28, às 19h15, no mesmo local). Em pouco mais de meia-hora, conta-se a história dos dois concertos. Mais do que isso: de um acontecimento que levou todos os interessados em música popular a recorrerem a vários expedientes para conseguir entrar (o guitarrista Zé Pedro andou dias a criar imitações dos bilhetes com tinta-da-china). Primeiro temos o país: as imagens das manifestações, as sedes de partido incendiadas, as discussões políticas nos liceus e faculdades que redundavam em "pancadaria" revolucionária. Depois, à medida que as histórias dos protagonistas - Zé Pedro, Kalu, Manuel Mozos, Lena d"Água - se vão desenrolando, centra-se naquele pavilhão que transbordou de gente a viver a sua vida normal no país que se entregava vigorosamente à liberdade recém-conquistada. Acompanhado pelo som do concerto registado em gravação "pirata", por fotos da passagem da banda por Portugal e pelo revisitar dos locais por onde passou a romaria - o Pavilhão Dramático, a estação ferroviária de Cascais... -, misturam-se certezas e suposições: "A rede no pavilhão caiu!", "A rede não chegou a cair"; "Peter Gabriel andava num tubo"; "Peter Gabriel saiu de um preservativo gigante". É certo que o concerto aconteceu mesmo. E que foi um encontro geracional marcante. O documentário não é sobre música. É o relato desse encontro. Mário Lopes

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