Ferreira Leite considera metas do défice "absolutamente inviáveis"

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Ferreira Leite não acredita numa solução assente na carga fiscal Foto: Pedro Cunha/arquivo

Manuela Ferreira Leite considerou nesta terça-feira que o Orçamento do Estado "não tem execução possível" e que as metas do défice estabelecidas no documento são “absolutamente inviáveis”. E avisou que a situação do país não se resolve com impostos.

“Este objectivo é absolutamente inviável de ser conseguido. Não é tese ou crença, é uma questão de análise económica”, afirmou a ex-ministra das Finanças durante a conferência "O Estado e a competitividade na economia portuguesa" que se realiza esta terça-feira na Universidade Nova de Lisboa.

A ex-presidente do PSD afirmou ainda que não acredita numa solução para o país assente na carga fiscal e que não leva em conta o endividamento das famílias: “Não creio que haja a possibilidade de haver alguém que considere que na situação presente em que está a economia portuguesa, a situação melhore com o aumento de impostos”.

Ferreira Leite defendeu que no próximo ano o país irá continuar a assistir ao aumento da recessão e do desemprego. Sobre as metas estabelecidas no Orçamento do Estado em relação ao défice, a ex-ministra de Cavaco Silva acrescentou que não acredita que sejam alcançáveis, nomeadamente no prazo estabelecido. "Não vejo outra alternativa se não negociarmos com a troika", disse.

Num painel de debate composto por Bagão Félix, Vítor Bento e Vieira da Silva, a social-democrata reafirmou que a Grécia ainda não cumpriu nenhum dos objectivos estabelecidos no programa de ajustamento financeiro do país sem que isso tenha implicado a sua saída do euro. "Este argumento devia ser explorado neste momento", acrescentou.

Também o economista e ex-ministro das Finanças e da Segurança Social Bagão Félix argumentou que a receita de mais impostos já provou não ser solução para os problemas do país. “Esta receita pode gerar uma septicemia na economia”, concretizou o antigo governante democrata-cristão.

Bagão referiu um orçamento que “destrói a classe média” e retira a esperança. E alinhou com Ferreira Leite na necessidade de ser discutida a hipótese de mais tempo para cumprir o programa de ajustamento financeiro. “As reformas estruturais levam pelo menos uma década”, disse, concluindo mesmo que “a economia está totalmente ausente deste Orçamento”.

Na mesma linha, o ex-ministro da Economia Vieira da Silva defendeu que "não é impossível" que a troika esteja disposta a negociar as condições do programa de assistência financeira.

Mais dissonante dos restantes intervenientes esteve o economista e conselheiro de Estado Vítor Bento. O economista defendeu que Portugal deve cumprir o memorando e que é necessário “um pacto” entre políticos e sociedade para que o país se mantenha na zona euro. Bento argumentou ainda que os portugueses são mais pobres do que julgavam e que o ajustamento financeiro só pode ser feito pela “via deflacionária”.

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