Crise nos media: a ignorância é a pior das ditaduras

Gerir, moderar e contextualizar sem manipular a informação é nos dias de hoje a tarefa mais importante na defesa dos direitos, liberdades e garantias dos povos ocidentais

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Numa época que se multiplicam os meios de consumo de informação e também a quantidade de informação consumida e onde, paradoxalmente, se verifica um definhamento económico dos meios clássicos de distribuição dessa informação, torna-se cada vez mais relevante discutir o papel que estes meios terão nas próximas décadas.

Tomando por bom o conceito que existem dois grandes tipos de media: os sem intermediário entre produtor e consumidor da notícia (sendo o Youtube o maior veículo desse tipo de media) e os com intermediário (todos os meios onde as notícias são processadas e analisadas entre o produtor e o consumidor das mesmas por jornalistas profissionais), verifique-se o caso de uma notícia dada há um ano e que teve propagação quer pelos meios eminentemente sem intermediário (como o Youtube) quer pelos meios ditos tradicionais: a morte às mãos dos rebeldes do antigo ditador líbio Muammar Gaddafi.

  

Esta notícia teve um enquadramento próprio nos meios tradicionais, e neste verão surgiram no Youtube, sem qualquer filtro, as imagens que demonstram que o cadáver de Gaddafi foi profanado, transportado numa pick-up e arrastado pelo chão pelas milícias que o mataram. Este vídeo amador, como é perceptível pela descrição, é de uma violência extrema.

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Perante isto, nos media tradicionais existiram dois tipos de divulgação da notícia: a de difundir as imagens sem qualquer filtro e com uma demissão total do papel de moderar a informação, como foi exemplo numa manhã de Julho a Sky News, onde a pivô limitava-se a avisar que as imagens poderiam ser chocantes; e a de contextualizar a informação e moderar o acesso dela ao público, que foi o que fizeram a maioria dos meios que tiveram tempo para a digerir.

  

Ter tempo para moderar

E este, na minha opinião, é o papel fundamental dos meios ditos tradicionais e o veículo da sua sobrevivência: ter tempo para moderar e digerir a informação que é debitada, pelas fontes, a um ritmo cada vez mais alucinante.

Qualquer informação que não seja moderada e devidamente contextualizada por jornalistas livres pode-se tornar muito perigosa (usando um outro exemplo, podemos verificar os perigos que advêm de muitos rumores não confirmados que todos os dias surgem no meio da crise económica europeia).

  

Se os media tradicionais forem cada vez mais pelo caminho fácil, de ceder à não filtragem e ao descuido na gestão da informação, então perderão completamente a sua batalha para os meios de acesso imediato, sobretudo porque estes são de mais fácil acesso e, fundamentalmente, de maior capacidade para a demagogia e a cativação de massas.

  

Gerir, moderar e contextualizar sem manipular a informação é nos dias de hoje a tarefa mais importante na defesa dos direitos, liberdades e garantias dos povos ocidentais.

Se a sociedade evoluir para um cenário em que ninguém faça esse papel então viveremos na pior das ditaduras: a da ignorância. 

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