Opinião de José Manuel Rocha: Uma coligação de mal a pior

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A conferência no Ministério das Finanças Miguel Manso

A conferência de imprensa do ministro das Finanças de quarta-feira e a reacção de Paulo Portas “ao enorme aumento de impostos” revelado por Vítor Gaspar vêm comprovar que temos, neste momento, um Governo com duas facções e duas velocidades.

Uma parte da equipa que anuncia coisas – muitas vezes disparatadas, como aconteceu com a mexida na Taxa Social Única (TSU) – e outra parte que, logo a seguir, vem dar conta de incomodidade, ou mesmo de uma clara discordância, e obriga a outra facção a atirar as ideias disparatas para a gaveta e a reformular as políticas anunciadas.

Ora, isto acontece num Governo dito de coligação e que, ainda por cima, decidiu criar um Conselho de Coordenação da Coligação, que tem como função melhorar a articulação entre as direcções dos dois partidos, o Executivo e os grupos parlamentares. Pelos vistos, este órgão deve ter ido de fim de semana (muito) antecipado.

Só assim se compreende que o ministro das Finanças tenha vindo anunciar um plano brutal de austeridade e, no dia seguinte, o ministro dos Negócios Estrangeiro, uma das duas cabeças da coligação, venha dizer que é necessário “um esforço redobrado” para procurar soluções de redução de despesa que evitem o verdadeiro confisco enunciado por Gaspar.

Se existe um governo, ainda por cima de coligação, e um conselho de coordenação da dita, não poderiam ter conversado neste órgãos sobre as medidas e chegado a um consenso antes de anunciar aquilo que, pelos vistos, é para mudar?. Ou será que a coligação já era e o governo reúne-se em separado – a ala Gaspar/Passos, de um lado, e a ala Portas, do outro? Sem comunicarem entre si...

Se tudo correr como previsto, depois de ter cedido, entre outros, a Paulo Portas na questão da TSU, Passos Coelho poderá ser de novo obrigado a ceder ao seu parceiro de coligação no corte da despesa pública para amaciar a factura fiscal que pretende impôr aos portugueses.

O desnorte parece instalado no Governo e não faltará muito para que o baronato do PSD se revolte contra o que está a acontecer.

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