O New York Times existe porque Arthur Ochs Sulzberger viveu para ele

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Arthur Ochs Sulzberger foi director do New York Times durante 37 anos Reuters

Quando em 1963 Arthur Ochs Sulzberger assumiu a direcção do New York Times, numa fase em que o jornal estava mais perto da falência do que do sucesso, estaria longe de imaginar que aquela publicação que ajudou a definir se tornaria numa das mais importantes do mundo. Arthur Ochs Sulzberger morreu no sábado, aos 86 anos, mas o seu nome continuará para sempre ligado à história do jornalismo.

"Nunca cries uma empresa que tenhas vergonha de contar à tua mãe", disse Sulzberger um dia, a propósito da criação da revista de celebridades Us Weekly em 1971. Mas, se desta tinha vergonha de incluir no currículo, do New York Times sempre falou com orgulho, talvez por ter noção de que foi com a sua mão que o jornal se tornou numa referência, definindo tantas vezes a agenda do país.

De facto, o ano de 1971 não ficou marcado pela criação da revista dos famosos mas sim pelo desafio de Sulzberger ao então presidente Nixon. Foi a sua decisão destemida de publicar os documentos secretos do Pentágono sobre a Guerra do Vietname, revelando que os Estados Unidos encobriram operações ilegais como a expansão dos bombardeamentos, que o tornou num dos gigantes do jornalismo. Iniciou um braço de ferro com o Governo norte-americano, que tentou a todo o custo travar a publicação da série de artigos sobre os documentos. O caso foi a tribunal, e o New York Time venceu.

"Foi Sulzberger quem decidiu que isto seria um caso que tinha de ser enfrentado. Essa decisão honrará para sempre não só jornalistas como as futuras gerações americanas", lembrou Floyd Abrams, o advogado que representou em tribunal o New York Times neste caso.

A verdade acima de tudo era o que defendia. "Eu não tinha dúvidas de que os americanos tinham o direito de ler [os documentos secretos] e que nós no Times tínhamos a obrigação de os publicar", são as palavras de Sulzberger sobre o caso que hoje a revista Time lembra.

Durante os 34 anos em que Sulzberber esteve à frente do New York Times, como director e presidente da empresa, o jornal conquistou 31 prémios Pulitzer, o mais cobiçado na área da comunicação social.

Em 1997 abandonou definitivamente a liderança da empresa e deixou-a ao seu filho, Arthur Sulzberger Jr. , iniciando mais uma geração da família à frente do negócio, desde que o seu avô materno, Adolph Ochs, comprou o New York Times em 1896.

A mudança que a Internet impôs ao jornalismo também não o assustou, Quando em 1997 deixou a presidência do jornal, já o New York Times começava a explorar o universo digital. O jornalismo impresso como único pilar do jornal não era o que defendia e por isso conseguiu desenvolver uma empresa que hoje está à frente na maioria das áreas, tanto no papel como online, que tem os conteúdos mais diversificados. Basicamente o que fez foi fortalecer a posição do papel, expandir o negócio e as suas operações e crescer de Nova Iorque para o resto do país e o mundo.

Quando assumiu a empresa, em 1963, a receita do jornal era de 101 milhões de dólares (78,5 milhões de euros). Quando passou o cargo para o filho, a receita era já de 2,6 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros).

"Tinha uma forte crença na importância de uma imprensa livre e independente, sem ter medo de procurar a verdade, vigiar os poderes e contar as histórias que precisam de ser contadas", foi assim que este sábado Barack Obama lembrou Sulzberger.

"O velho capitão fuzileiro que nunca deixou uma batalha a meio foi um defensor absolutamente feroz da liberdade de imprensa. A sua inspiradora liderança em casos marcantes, como o New York Times e os Documentos do Pentágono, ajudou a expandir o acesso a informação crítica e a evitar a censura e intimidação do governo", escreveu o seu filho em comunicado.

Arthur Ochs Sulzberger morreu em sua casa em Southampton, Nova Iorque, no sábado, depois de prolongada doença, segundo a família.

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