Em Wukan o povo continua a fazer experiências democráticas

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A população exige a restituição de centenas de hectares de terras James Pomfret/REUTERS

Primeiro houve eleições, agora o povo manifesta-se contra as promessas não cumpridas dos líderes

Uma das mais celebradas experiências democráticas da China teve lugar na vila piscatória de Wukan (sul). Ontem, a população continuou nessa senda, exprimindo a sua frustração contra os funcionários que elegeu democraticamente numa manifestação pequena mas vigorosa.

No primeiro aniversário do levantamento que levou à experiência eleitoral, mais de cem pessoas juntaram-se à porta do comité do Partido Comunista de Wukan para expressarem revolta contra a nova elite governante da vila que não resolve as disputas sobre posse de terra.

"As nossas terras ainda não nos foram restituídas", gritou Liu Hancai, de 62 anos, um dos muitos que lutam pela devolução de terras confiscadas pela anterior administração da vila e, posteriormente, vendidas como terrenos de construção.

A pequena multidão esteve debaixo dos radares das forças de segurança, de forma a não eclodir violência. "Poderíamos ter aqui mais gente, mas muitos têm medo dos problemas e não saem à rua", disse Liu.

Há um ano, Wukan tornou-se um farol do activismo [político] e foi notícia em todo o mundo, quando as confiscações de terras deram origem a um levantamento popular e ao afastamento dos líderes locais. Isso, por sua vez, levou à realização de eleições em que foi a população a escolher os novos representantes.

O ancião da vila, Lin Zuluan, que foi eleito chefe do comité local, frisou que a sua administração fez progressos, tendo conseguido reaver 253 hectares de terras e desenvolvido práticas administrativas mais transparentes, por exemplo a divulgação do orçamento. "Neste início de um novo caminho para Wukan, vamos deparar-nos com problemas, o que não quer dizer que não há democracia ou que tenhamos cometido grandes erros", disse.

Ainda há 700 hectares de terra em disputa. Alguns dizem que o novo comité não tem experiência administrativa e, por isso, está a ser manobrado pelas autoridades partidárias.

Outros referem que são os partidários do antigo líder, Xue Chang, que manobram para demorar o processo. Ainda há quem diga que o entrave são os funcionários da região a que a vila pertence, Shanwei, envolvidos no obscuro negócio das terras de Wukan. "Se Shanwei não for limpa dos corruptos, será difícil conseguirmos ir em frente", disse Zhang Jiancheng, um dos jovens eleitos em Wukan. "O comité está a tentar recuperar a terra, tem sido um processo doloroso, mas temos que seguir os trâmites legais."

A China mudará, em breve, de líderes nacionais. E qualquer instabilidade em Wukan poderá ter impacte na província de Guangdong, com consequências para o líder provincial do partido, Wang Yang. Este ambiciona ser escolhido para um cargo mais importante em Pequim e tem sido conotado (ou criticado) com a ala mais reformista por ter permitido a experiência de Wukan. Reuters

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