Ana Nicolau: objectivo é que Governo e troika se vão embora

Ana Nicolau é uma das organizadoras da manifestação “Que se lixe a Troika, queremos as nossas vidas”. Esta sexta-feira, dia 21, às 18h00, há nova concentração nos jardins de Belém

A pessoa que melhor apelou à manifestação foi o amigo Pedro, o pai e o cidadão Paulo Santos
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A pessoa que melhor apelou à manifestação foi o amigo Pedro, o pai e o cidadão Paulo Santos
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Paulo Santos

O que esperavam da manifestação do dia 15?

Quando lançámos o apelo, começámos por ter algumas adesões na página, mas como alguns de nós já tinham organizado outras manifestações, sabíamos que os números [de pessoas] do Facebook não equivalem às que realmente aparecem. Nós tivemos uma reunião na quarta-feira, antes do anúncio das novas medidas de austeridade, e um de nós falou em dez mil pessoas. No fim-de-semana, depois do anúncio das medidas, a contagem subiu astronomicamente. Sábado, uma semana antes, estavam 50 mil pessoas. Nessa altura, começamos a ter ideia que ia ser uma coisa grande.

Parece-te que as medidas anunciadas foram a publicidade que precisavam para que o evento atingisse a proporção que atingiu?

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Rui Marçal é trabalhador e estudante de Ciências Sociais

A nossa intenção foi sempre protestar por aquilo que defendemos no apelo. Mas sem dúvida que a pessoa que melhor apelou à manifestação foi o amigo Pedro, o pai e o cidadão.

Como surgiu a ideia de convocar uma manifestação?

Eu fui chamada depois da ideia inicial, que partiu de quatro pessoas do grupo, que pensaram: “Temos que ir para a rua, que isto não pode ser; a troika está a dar cabo das nossas vidas”.

Farás naturalmente um balanço positivo da manifestação...

Para lá de positivo e por vários motivos. Primeiro, porque as pessoas tomaram a iniciativa de lutarem por si próprias e de lutarem pelos seus em vez de seguirem aquela lógica dos Deolinda do “vão sem mim que eu vou lá ter”. Foi maravilhoso ver as pessoas que saíram à rua, muitas pela primeira vez, e outras que não saíam desde o 25 de Abril. Acho isso importantíssimo porque é uma forma de cidadania activa e democracia participativa que nós nos esquecemos de exercer.

No final da manifestação, que devia ter acabado na Praça de Espanha, a comunicação da organização foi imperceptível para a maior parte das pessoas...

Percebo a pergunta. Conseguimos a carrinha e um sistema de som, mas mais que isso seria difícil. Por isso, optámos por colocar o nosso manifesto na net.

Depois das vossas intervenções, parte da manifestação foi para a Assembleia da República. Parece-te um desvio ao que era inicialmente proposto?

A manifestação, como nós a convocámos, começaria na Praça José Fontana e terminaria na Praça de Espanha. Houve, espontaneamente, um grupo de pessoas que foi para a Assembleia da República. Não condeno.

A organização foi para a Assembleia?

Não, não fomos. Mesmo como ideia inicial não nos agradou. É um espaço muito pequeno e muito perigoso. Tem escadas à frente e escadas atrás. Além disso, era sábado e não estava lá ninguém. Ia estar a gritar para os polícias que, pelo que vi e pelo que me foi contado, se portaram heroicamente e resistiram estoicamente. Mas acho muito bem que as pessoas decidam manifestar-se.

Entretanto, agendaram uma nova manifestação, em Belém, já esta sexta-feira, dia 21. Porquê?

Porque vai estar reunido o Conselho de Estado e, de acordo com a Constituição, o Presidente da República poderá destituir o Governo.

É essa a vossa exigência?

Sim, juntamente com o rasgar do memorando da troika. Basicamente, porque seguem e ultrapassam as medidas propostas.

O que determinará o sucesso dessa manifestação?

Boa pergunta... nunca falámos assim. Eu sou crente no espírito acordado de nós todos. Acredito que, pelo menos, mil pessoas seremos. Mas, obviamente, que o nosso propósito maior é que a troika se vá embora, que este Governo [também] vá e que não venha outro assumir o mesmo tipo de políticas.

Só irão parar quando o Governo cair?

Pelo menos abrandar. Tudo depende o que eles fizerem quando o Governo cair. Se nomearem o António Borges primeiro-ministro, se calhar não paramos, nem abrandamos…

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