Adriana juntou as duas forças antagónicas, ódio e amor, blá, blá

Adriana achou que o polícia estava triste e, por isso, abraçou-o. A história de Sérgio, o agente do Corpo de Intervenção, interessa-me francamente mais

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Fotomontagem de Marta Brito

Aviso parental: antes de se chatearem comigo, uma ressalva, isto não é pessoal, (...perdoa-me senhor que eu não sei o que faço...) é universal. Qualquer semelhança com a realidade deve ser levada a mal ou a bem, a mim tanto me faz. Eu ainda acredito no amor, mas gosto do meu sem "brainshop", obrigada.

No dia 15 de Setembro de 2012, pelas 16h00, comecei a minha pegada pela liberdade na avenida com o mesmo nome, continuei para a da República, e depois ala para o arco pouco triunfante da Praça de Espanha. Foi bonito ver a malta unida, pá; as pessoas emocionadas, os cartazes inspirados pelo vernáculo maldoso. Quando faço estas coisas penso mais nos meus pais do que nos meus filhos - é um facto, que ainda não desceu em mim a maternidade. Os meus ricos pais que me ensinaram que se estudarmos muito, e lutarmos com dignidade, chegaremos a algum lado... Penso que nenhum Governo do mundo tem o direito de nos tirar os sonhos da infância, para isso temos os escritores...

E acima de tudo, nenhum Governo tem o direito de retirar a dignidade de uma velhice tranquila e feliz aos meus pais. Este presente não precisa de ser envenenado, já me basta o futuro desfocado que aí vem. E é por estas, e por outras, que me estou bem a lixar para o amor da miúda de Lagos, e para estas imagens icónicas que a imprensa triste insiste em imprimir na mente popular ainda mais triste.  

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Adriana não acredita no dinheiro, mas os pais de Adriana acreditam no dinheiro que depositam na conta da filha. Nada contra isso, eu também já sofri do mesmo bem. Adriana tem um cabelo bonito. O olhar jovem poético pode ser confundido com palermice, mas Adriana é amorosa. Adriana achou que o polícia estava triste e, por isso, abraçou-o, unindo assim as duas forças antagónicas, ódio e amor, blá, blá, blá.

"Acredito que se der amor, recebo amor" - Eu remeto-me à minha depressão silenciosa pós-europeia. Por outro lado, a história de Sérgio, o agente do Corpo de Intervenção, interessa-me francamente mais do que a história de Adriana. Eu bem sei que o reino dos céus é das crianças, até compreendo o que a jovem ‘sente’, o que não me cai bem é cairmos todos como pequenos póneis nesta lamechice ASD, Adriana "in the sky with diamonds".  

Depois da "tomatina" contra os escritórios do FMI, e do "confetti" romântico da miúda, as coisas começaram mesmo a aquecer. Em São Bento, em frente à Assembleia, quando voavam garrafas de cerveja - só neste país é que atiramos garrafas de cerveja como forma de protesto -, que acabaram por ferir os manifestantes e não alguém a que a elas tivesse direito,  tive uma epifania. Por entre a rouquidão do hino, as brumas da memória, as frases presas aos megafones cansados que saíam de bocas que já viram melhor espuma dos dias, deixei de ouvir e perdi o sentido de tudo aquilo.

Ninguém conseguia articular um discurso, ninguém sabia qual era a luta, portanto, o melhor era ir jantar. A nossa revolução era a mais triste de todas as revoluções. E a tristeza paga-se de duas maneiras, ou se olha de frente, ou se enternece com a ilusão. Inventamos um fantasma de um rei pálido para nos dar esperança, e inventamos também os belos cabelos da Adriana Xavier, pintados, porque na verdade ninguém quer saber da raiz para nada.

Para a Conceição, o Fernando, o Gonçalo, a Marta, a Rita e o Rui 

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