Crime e Pecado

Já nem o cinema europeu escapa à fúria das remakes: agora, temos uma nova adaptação do romance de Graham Greene sobre uma sórdida história de amor no submundo da cidade costeira de Brighton, cuja primeira versão (Morte em Brighton, dirigida em 1947 por Roy Boulting) se tornou num dos clássicos absolutos do cinema britânico do pós-II Guerra Mundial. Já que se fez, no entanto, há que dizer que a versão de Rowan Joffe (argumentista do Americano de Anton Corbijn) não deslustra os pergaminhos.


Transpondo a acção para 1964, em plena revolução mod, Joffe parece querer sublinhar o modo como tudo neste romance de conveniência entre um pequeno criminoso calculista que procura salvar a pele e uma empregada de mesa infeliz e ingénua reflecte uma “velha Inglaterra”, agarrada aos últimos vestígios do Império, à beira de ser varrida pela revolução pop. Crime e Pecado balança entre a fetichização do realismo social dos angry young men e o empolamento da dimensão trágica da narrativa, pelo meio de um desejo avassalador de fazer um film noir à moda antiga. Mas essa vontade de ser tudo ao mesmo tempo não lhe fica mal, e nunca afoga a consistência de um elenco justíssimo liderado por um ameaçador Sam Riley (o Ian Curtis de Control, provando que não é actor de um só filme) e pela gloriosa Helen Mirren.

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