Pipeline que atravessa Matosinhos pode ter condutas com 50 anos

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O presidente da Câmara de Matosinhos considera não haver riscos para Matosinhos-Sul Fernando Veludo/NFACTOS

Galp Energia assegura a "total segurança" da instalação até ao encerramento do parque de armazenamento de combustíveis do Real, que deverá suceder dentro de dois anos

Uma parte das condutas que compõem o pipeline de abastecimento ao parque de armazenagem de combustíveis do Real, em Matosinhos-Sul, podem estar ao serviço há cerca de 50 anos. Questionada pelo PÚBLICO sobre as garantias de segurança das linhas de combustível e de gás que saem do Porto de Leixões e atravessam o centro de Matosinhos pelo subsolo da Rua de Sousa Aroso, a Galp Energia indicou, em resposta por escrito, que "não é possível " referir qual a idade das condutas que compõe a instalação, "mas apenas que os vários traçados foram originalmente construídos nas décadas de 1960 e 1970".

A resposta enviada pelo gabinete de imprensa da Galp Energia dá conta de que "os pipelines em causa têm diferentes datas de construção (...) e foram ao longo dos anos objecto de substituição por troços", sem, todavia, garantir que a troca de condutas tenha abrangido toda a infra-estrutura ou explicar quando se procedeu à sua substituição. A empresa, uma das três que partilham o parque de armazenagem existente junto ao Parque da Cidade e as respectivas linhas de abastecimento, assegura, ainda assim, a "total segurança" da instalação, que deverá ser encerrada dentro de dois anos (ver caixa).

Apesar da insistência do PÚBLICO, a Galp Energia não forneceu cópias dos relatórios das últimas inspecções às condutas, limitando-se a informar que o equipamento é objecto de "inspecções visuais regulares semanais", e que, em Julho, foi objecto da sua última inspecção decorrente do ensaio de pressão efectuado anualmente, "acompanhada por entidade creditada".

A segurança das condutas daquele pipeline tem sido regularmente questionada ao longo dos anos e ganhou particular visibilidade em Abril último, quando uma explosão da conduta de GPL, no Porto de Leixões, matou um dos operários que procediam ao desmantelamento de uma grua, ferindo outro com gravidade e provocando um incêndio de grandes dimensões. Acresce que, ao contrário do troço onde a explosão ocorreu, onde a conduta circula à superfície, o pipeline de abastecimento ao parque de armazenagem está instalado no subsolo, numa zona densamente urbanizada, dificultando a sua inspecção e substituição (recorde-se que as condutas de ligação à refinaria de Leça da Palmeira foram totalmente substituídas há poucos anos, aproveitando a intervenção de requalificação da marginal).

Autarquia confiante

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, afirmou acreditar que o pipeline que atravessa Matosinhos-Sul é seguro, sendo "vistoriado regularmente". "A Câmara está empenhada no processo de deslocalização do parque de armazenagem do Real. Admito que as condutas estejam a necessitar de ser substituídas, mas estão a dois anos de serem desactivadas e isso é, neste momento, o mais importante. Creio que não há risco real para a população de Matosinhos", afirmou o autarca.

"O estado de conservação das linhas e respectivos equipamentos garante a total segurança da sua operação. As acções de manutenção e inspecção serão realizadas enquanto as mesmas estiverem operacionais, mantendo as melhores condições de segurança até ao encerramento do parque", assegura, por seu lado, a Galp Energia, acrescentando que "as acções de inspecção obedecem a um plano previamente estabelecido de acordo com a legislação em vigor, as melhores práticas e os códigos internacionais aplicáveis, e com conhecimento da Direcção-Geral de Energia e Geologia". "Os vários tipos de inspecção e respectivas periodicidades são acompanhadas e validadas por entidades creditadas para o efeito", adianta ainda a petrolífera portuguesa.

O pipeline, refira-se, abastece os três parques localizados em Real, propriedade da Galp Energia, da BP e Repsol. As condutas que o compõe são co-geridas pelas três companhias, transportando gás e combustível. A maior conduta, dedicada ao abastecimento de fuel, encontra-se já fora de serviço e sem produto.

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