A bela St. Vincent e o monstro David Byrne

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Love This GiantDavid Byrne & St. Vincent4AD/Todo Mundo13,99€

Ambos gostam de colaborações, em particular David Byrne, embora Annie Clark, ou seja St. Vincent, também não seja menina para recusar projectos aliciantes. Ao que parece conheceram-se em 2009 no contexto da gravação de uma canção para a compilação Dark Was The Night, tendo depois Byrne convidado Annie para colaborar no seu álbum Here Lies Love. Agora, fizeram um disco juntos: Love This Giant.

A ideia para gravarem um álbum conjunto terá surgido depois de terem assistido a um concerto de Björk com os magníficos Dirty Projectors (com quem Byrne já colaborou, lá está). A passagem à acção não demorou muito tempo, com Annie a enviar a Byrne algumas partes musicais assentes em instrumentos de sopros e ele respondeu-lhe com algumas reestruturações sonoras e uns improvisos vocais. Quase a partir do nada tinham uma canção feita. A partir daí foi só criar mais onze faixas, segundo um processo que os próprios definem como tendo sido democrático, quase exclusivamente baseado nos metais, nas electrónicas e nas vozes.

O facto de viverem na mesma cidade, Nova Iorque, deve ter ajudado, embora eles digam que a comunicação inicial se deu via email. O pior foi a disponibilidade para as gravações. Desde que os Talking Heads foram à vida, David Byrne nunca mais parou, entre álbuns a solo e colaborações (de Brian Eno a Fatboy Slim), para além dos livros, das exposições, das óperas e sabe-se lá o que mais. Por sua vez, Annie impôs-se desde 2007 como uma das cantoras e compositoras mais influentes do panorama pop global. O seu último álbum de originais, Strange Mercy, pertence ao ano passado.

Por falar em Talking Heads, Love This Giant bem poderia ser um disco dos Cabeças Falantes. A começar pela foto da capa, com as faces de Annie distorcidas, a fazer lembrar a icónica capa do álbum Remain In Light (1980) - ao que parece a solução encontrada terá sido uma ideia de Byrne, surgida durante uma brincadeira em estúdio ("Tu és bonita e jovem e eu sou bem mais velho: a Bela e o Monstro!", terá dito ele, antes de propor uma mudança de papéis para a foto, da qual resultaria a deformação dela).

Mas não é apenas a iconografia que faz recordar aventuras de outros tempos de Byrne, é também a sonoridade, com cada uma das canções com qualquer coisa de familiar e estranho em simultâneo, prometendo cada uma delas um universo singular, sem que o disco deixe de respirar coerência. Os arranjos são quase sempre inventivos, com os metais e as dinâmicas electrónicas enlaçadas, enquanto Annie mostra toda a sua flexibilidade vocal e Byrne o seu lado mais teatral, trauteando como quem abre os olhos de espanto, reflectindo ironia ou simples curiosidade.

Depois da edição oficial do álbum (nas lojas a partir de terça-feira) vai seguir-se uma digressão de apresentação. Ainda não se sabe as datas, mas conhecendo as qualidades performativas de ambos os protagonistas, não custa prever que serão concertos para mais tarde recordar. Venham eles. V.B.

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