Tem grelinhos, tem grelinhos, tem grelinhos no quintal...

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ADELAIDE CARNEIRO

Ainda vamos a tempo de os semear para os comermos no Natal, por exemplo. Muito populares nas mesas portuguesas, em especial na Beira Litoral, os grelos de nabo têm propriedades anti-cancerígenas e alto valor nutricional. Pedem solos com boa exposição solar e água com fartura. Rosa Isabel Guilherme*

"Os grelos de nabo para serem bons têm que ser cozidos três vezes: uma vez com sede [alusão ao mês de Setembro, ainda seco quando das primeiras sementeiras], outra vez com geada [referência às madrugadas geladas de Inverno - a planta resiste bem à geada e perde acidez] e a terceira vez para comer." Esta expressão popular dos Carapelhos, na Beira Litoral, fala deste alimento comum entre gregos e romanos e de sabor peculiar (misto de doce e amargo chegando, por vezes, a ser acre). A Beira Litoral é a região onde são mais produzidos, seguida do Minho.

Trata-se de uma planta habitual na horta portuguesa, de fácil cultivo e com um consumo cada vez maior devido às suas propriedades anti-cancerígenas e valor nutricional (fonte de betacaroteno e de vitaminas A, K e C, ricos em cálcio, potássio, cobre, magnésio e outros elementos minerais; ricos em aminoácidos e fibras). E são acompanhamento inigualável dos pratos típicos do Inverno.

Ainda estamos a tempo de semear grelos para comer no Natal.

A planta

Os grelos de nabo, as nabiças e os nabos são estádios de desenvolvimento diferentes da mesma espécie botânica Brassica rapa var. rapa L.. Planta herbácea bienal, cultivada como anual, faz parte da dieta alimentar dos portugueses de forma variada através das raízes (nabo), das folhas jovens (nabiça) e do escapo floral (grelo de nabo).

Para a produção de grelos de nabo, as variedades mais comuns na Beira Litoral são a São Cosme e Greleiro, de que existem tipos precoces e tardios. No Minho é utilizada a variedade precoce Greleiro de Santiago.

Quando e onde semear?

Hoje, com recurso a variedades de diferentes ciclos, podemos produzir grelos de nabo de Novembro até Abril/Maio. A sementeira acontece quase durante todo o ano em algumas zonas do país. Mas tradicionalmente tem lugar quando caem as primeiras chuvas (Setembro).

Deve escolher no seu quintal um local bem exposto ao sol, fresco e húmido. Os nabos gostam de solos com elevado teor de matéria orgânica, bem drenados e que retenham água durante a fase de crescimento. O pH do solo óptimo situa-se entre 6,5 e 7.

O solo deve ser bem preparado para que as raízes se possam estabelecer rapidamente e tenham à sua disposição todos os nutrientes. Para isso, comece por revolver a camada superficial do terreno (com uma enxada), cave de forma a desfazer a crosta e todos os torrões até cerca de 20cm de profundidade, deixando o solo o mais solto possível. Aproveite para incorporar o composto orgânico ou o estrume, se o tiver.

Como semear e cuidar?

O método mais fácil e usual é a sementeira à mão no local definitivo, com uma distância entre linhas de 30 a 40cm. A quantidade de semente deve ser exagerada, para possibilitar, em pouco tempo, o desbaste inicial de plantas que se irá traduzir na primeira produção de nabiças. Depois de espalhada a semente, cubra-a com uma fina camada de terra para que fique a a cerca de 1cm de profundidade. Regue de seguida. O nabo é muito exigente em água, pelo que em invernos secos e, em particular, nos solos arenosos deve regar para manter a humidade do solo e evitar a perda de produção. O desbaste inicial deve ser feito de modo a que as plantas fiquem a 10 a 25cm entre si.

Quando colher?

Os grelos são colhidos quando o escapo floral (o talo sem folhas com flores no extremo) está formado, mas com os botões florais ainda fechados. Não é aconselhável colhê-los quando as flores, de cor amarela, já se encontram abertas, pois nessa fase o grelo é mais fibroso e duro. Os nabos greleiros permitem normalmente três colheitas, que poderão estar espaçadas 15 dias. Tradicionalmente, colhem-se pela manhã e, nos meses mais frios, às vezes ainda com geada.

Licenciada em Engenharia Agro-Pecuária e da Associação Portuguesa de Horticultura

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