Opinião: Castigo a Jesus é um escândalo e o presidente do CJ da FPF devia demitir-se

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O castigo aplicado a Jorge Jesus não vai ter efeitos práticos Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Todo o processo que envolve o castigo (não) aplicado a Jorge Jesus é um escândalo inenarrável, algo que nos faria sorrir maliciosamente se tivesse acontecido numa autocracia remota, mas que é inadmissível e não pode passar impune num país e num desporto que deviam ser avessos a este tipo de tiranias.

Os factos são fáceis de contar. A 2 de Março de 2011, o FC Porto venceu na Luz (3-2), beneficiando do facto de o árbitro assistente, que estava mal posicionado, não ter invalidado um golo a Maicon, num livre em que o portista tirou partido de estar alguns centímetros em fora de jogo. No final, Jesus disse que o assistente de Pedro Proença “se não viu (...) foi porque não quis”. E acrescentou: “Já vi na televisão e consigo ver onde ele está. Ele viu tudo. Ele sabe que estão fora de jogo. Naquele lance só pode haver premeditação”. O castigo demorou meio ano a sair. E ficou-se por 15 dias de suspensão e uma multa de 1500 euros. A suspensão não terá qualquer eficácia: vai ocorrer num período em que não haverá jogos.

Por muitíssimo menos, a liga inglesa suspendeu de imediato e obrigou Alex Ferguson a pagar uma multa astronómica. Provavelmente, a decisão do Conselho de Disciplina seria bem mais célere e castigadora se em causa estiver um treinador fora do universo dos “grandes”. Porque situações idênticas já ocorreram com protagonistas do FC Porto e do Sporting.

E se a decisão já era suficientemente surrealista, assumiu contornos quase injuriosos após a Rádio Renascença ter divulgado o acórdão do castigo aplicado pelo Conselho de Disciplina da FPF.

Soube-se então que o castigo tinha sido aprovado com dois votos contra, um deles do próprio presidente Herculano Lima. Juiz jubilado, aquele responsável não só considerou o acórdão “ilegal”, como considerou que Jorge Jesus “se limitou a defender a sua honra e o seu clube, que tão gravemente foi lesado pela arbitragem”. Mais, acrescentou que o árbitro Ricardo Santos “tinha todas as condições para ver a falta e a obrigação funcional de o fazer”, não o tendo feito “por motivações que só ele sabe”. Depois disto, e caso Herculano Lima não se apresse a demitir-se, como poderá o presidente da Federação ter coragem de pedir que os treinadores, jogadores, dirigentes e até os árbitros respeitem os árbitros?

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