A eurodeputada do PS Ana Gomes afirma que a coligação PSD/CDS-PP lhe faz lembrar a fábula do lacrau e do sapo, acrescentando nunca ter duvidado de que Paulo Portas "arranjaria um pretexto" para exigências dentro da maioria.

"Nunca tive dúvidas em que chegaria o momento em que Paulo Portas arranjaria um pretexto qualquer para começar a fazer exigências dentro da coligação e, eventualmente, a lançar os olhos para alternativas, quando as coisas começassem a aquecer", disse.

Ana Gomes falava aos jornalistas à margem da Universidade de Verão do PS, em Évora, quando questionada sobre se a polémica em torno da RTP estaria a "beliscar" a coligação PSD/CDS-PP que sustenta o Governo.

A este propósito, a eurodeputada do PS ironizou, dizendo que não se esquece "da história do lacrau e do sapo": "O sapo vai atravessar o canal e o lacrau vai de boleia, mas, a certa altura, pica o sapo, tem que picar porque lhe está na natureza, mesmo correndo o risco de ir ao fundo."

Instada pelos jornalistas sobre se estaria a referir-se a Paulo Portas, Ana Gomes limitou-se a afirmar: "Fará as suas ilações, mas essa história vem-me à cabeça muitas vezes, a propósito desta coligação."

A RTP, frisou, é um tema "suficientemente mobilizador, em termos do alarme público, para ser um pretexto", mas é preciso aguardar para "ver que desenvolvimentos terá".

Pode servir, insistiu, "para uma eventual renegociação no quadro da coligação ou até alternativas de ruptura".

Tudo porque, na opinião de Ana Gomes, o "desvio colossal" das metas orçamentais, "por incompetência, por escolha ideológica errada" do Governo, vai provocar "uma situação social muito pior do que aquela que já hoje vivemos".

"E, naturalmente, isso vai tornar menos apetecível para quem tem responsabilidades ter que as assumir diante dos eleitores portugueses", concluiu.

Questionada sobre o Orçamento do Estado para 2013, Ana Gomes disse que o PS deve esperar para conhecer a proposta do Governo, mas defendeu também que tem que exigir uma "renegociação do programa de ajustamento" financeiro ao país com a troika.

A eurodeputada do PS defendeu também que o partido "não pode recear crises ou rupturas" políticas e garantiu que só "é tempo de consensos" se estes "servirem o interesse nacional".

"Eu nunca receei crises ou rupturas, pessoalmente e no partido, e também acho que o PS não pode recear crises ou rupturas se, de facto a receita é a mesma, desastrosa, empobrecedora e ruinosa para a economia e para os cidadãos portugueses", sustentou.

Já durante o painel em que discursou, a eurodeputada tinha abordado esta temática e aproveitado para comentar a presença do ex-ministro socialista Luís Amado, na sexta-feira, na Universidade de Verão do PSD, que também está a ter lugar no Alentejo, mas em Castelo de Vide.

"Vi o ex-ministro Luís Amado na Universidade do PSD, acho que ele está lindamente lá", opinou Ana Gomes, suscitando aplausos e risos da plateia de "alunos" do PS.

Luís Amado, resumiu a eurodeputada – e frisando ter opinião distinta – disse "que o PS não podia provocar uma crise política, sob pena de comprometer os objectivos do país de voltar aos mercados para se continuar a financiar".

"Desculpem, mas penso que o PS tem que estar preparado" para "as crises políticas que se justifiquem face a medidas absolutamente gravosas, desastrosas para o nosso país, para impedir que elas continuem a ocorrer", contrapôs.