Começou, já há muitos anos, por ser um segredo bem guardado, confidências soltas entre enófilos que reservavam para si todas as informações sobre uma colecção de nomes e rótulos trocados que poucos conheciam. Felizmente, e também inevitavelmente, o sucesso mediático acabou por atingir rapidamente a casa perante vinhos tão interessantes e modernos, vinhos bem feitos e vendidos a preços comedidos, vinhos bem distribuídos e produzidos em quantidades mais que razoáveis. Prontamente os vinhos começaram a marcar presença indispensável nas listas de compras de todos os enófilos encartados bem como na lista de quem está menos atento ao fenómeno do vinho.

Nem poderia ser de outra forma, porque os vinhos da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões são um santuário para os crentes na sacrossanta noção de qualidade/preço, um dos critérios mais importantes no sucesso de uma marca de vinho. Afinal não professamos todos desta mesma fé de procurar a melhor qualidade ao preço mais comedido possível?

A cooperativa de Pegões veio espelhar a imagem de vinhos seguros e fiáveis apresentando-se como um porto de abrigo estável, anunciando vinhos de confiança e com uma enorme consistência entre colheitas, garantindo que os vinhos da casa são sempre vendidos a um preço justo. Ou, escrito de outra forma, os vinhos da Cooperativa de Pegões encarnam o espírito e sustentam todas as qualidades necessárias para criar laços de cumplicidade e fidelidade entre produtor e consumidor. São muitos aqueles que se transformaram em defensores acérrimos dos vinhos da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, seguidores devotos dos muitos vinhos que a Adega de Pegões debita.

A fundação da cooperativa agrícola revela uma história deliciosa e original, de perfil simultaneamente altruísta e humanitário. José Rovisco Pais, grande proprietário rural, doou em testamento as suas enormes herdades sitas em Pegões aos Hospitais Civis de Lisboa, num gesto benemérito que se viria a revelar fundamental para o desenvolvimento da região. Mais tarde, com a emergência do estado novo e das suas políticas internas, Pegões acabaria por beneficiar de um impressionante projecto de "colonização interna", tal como foi apelidado pela nomenclatura da época, com a fixação de centenas de casais agrícolas e o consequente plantio de 830 hectares de vinha.

Desde a introdução da vinha na região até à criação da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, restou apenas um pequeno passo, facilitado pela política de então que privilegiava o movimento cooperativo. Desde a sua fundação em 1958 até à actualidade a Cooperativa de Pegões passou algumas por fases conturbadas, sobretudo na fase pós-revolução de Abril, seguindo muitos dos passos atribulados da história do movimento associativo. Até que Mário Figueiredo, que se mantém como presidente da direcção, assumiu a administração da cooperativa, imprimindo uma gestão dinâmica e séria, virada para a qualidade, com a preocupação ininterrupta da manutenção de uma invejável saúde financeira.

Jaime Quendera, simultaneamente enólogo, associado e gerente da casa é, juntamente com Mário Figueiredo, a alma e motor desta cooperativa, desenhador de estilos, garante da qualidade e impulsionador de uma inovação constante. É um filho da terra que vive de forma apaixonada e realista o dia-a-dia da adega, um enólogo que não se assusta com os imperativos e as dificuldades do grande volume. De forma espontânea e genuína, Jaime Quendera é um dos raros enólogos portugueses a afirmar sentir prazer em produzir vinhos de grande volume, a assegurar sentir satisfação em conseguir produzir milhões de litros de vinho com uma qualidade muito recomendável. Um desígnio que é seguramente cumprido na Cooperativa de Pegões, onde se destaca entre outros rótulos a marca Fontanário de Pegões, um dos ex-líbris da restauração portuguesa.

São cerca de sete milhões de litros produzidos anualmente que revelam um crescimento contínuo e sustentado da produção, caminhando de forma segura colheita após colheita, ano após ano. A casta Castelão, o símbolo de excelência dos vinhos da Península de Setúbal, ainda domina copiosamente a paisagem embora não faltem outras castas mais mediáticas e de cotação mais elevada para os lotes mais aprimorados ou para a elaboração de vinhos estremes, de uma só variedade.

O leque de vinhos produzidos é impressionantemente vasto englobando vinhos brancos, rosados, tintos, espumantes, aguardentes e um Moscatel, apesar das dificuldades de comercialização deste último.

Igualmente interessantes são os Colheita Selecionada branco e tinto e os Vale da Judia, igualmente em versão branco e tinto. Merecem igualmente destaque os vinhos estremes da casa, de uma só casta, os Adega de Pegões Trincadeira, Aragonez, Syrah, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Alicante Bouschet editados de acordo com as disponibilidades e particularidades de cada ano. Para muitos, a Cooperativa de Pegões representa a imagem ideal do vinho de mesa, do vinho de refeição apropriado para o quotidiano, do vinho que acompanha o dia-a-dia. Que melhor lisonja para um produtor de vinhos e de um enólogo?