Taliban atacam festa e deixam 17 mortos decapitados
As vítimas participaram juntas numa festa com música e dança: 15 eram homens e as duas mulheres dançarinas
Os corpos de 17 civis - 15 homens e duas mulheres - foram encontrados ontem com as cabeças decepadas numa vila do sul da província afegã de Helmand, num aparente castigo infligido por taliban por terem participado juntos numa festa com música e dança, prática banida nas comunidades mais conservadoras.
"As vítimas estavam numa festa, homens e mulheres misturados, e com música e dança, quando os taliban os atacaram" numa casa de Musa Qala, foi confirmado pelo governador daquele distrito. As duas mulheres eram dançarinas.
O Presidente afegão, Hamid Karzai, ecoou a atribuição de responsabilidade aos taliban pelo que definiu como "um massacre". "Este ataque mostra como há membros irresponsáveis entre os taliban", afirmou. Os rebeldes negaram entretanto envolvimento no ataque.
Nas comunidades ultraconservadoras do Afeganistão, homens e mulheres não convivem a não ser que sejam familiares, e as festas em que participam pessoas dos dois sexos são extremamente raras e frequentemente feitas sob enorme segredo. Para os taliban qualquer espécie de mostra de afecto em público e a mistura de homens e mulheres em situações sociais é condenável.
Em Junho ocorreu um ataque semelhante perto da capital afegã, Cabul, onde um grupo de rebeldes irrompeu por um hotel, frequentemente visitado por famílias afegãs ao fim-de-semana, exigindo saber onde estavam "as prostitutas e os proxenetas", em referência a uma festa mista que ali decorrera. Foram mortas 20 pessoas neste ataque, reivindicado pelos taliban como um castigo contra os que participavam em "festas selvagens".
Ao longo dos cinco anos em que os taliban estiveram no poder no Afeganistão, até ao seu derrube com a intervenção militar dos Estados Unidos, no final de 2001 e em resposta aos ataques do 11 de Setembro, as mulheres estavam banidas de exercer o direito de voto, da maior parte das profissões e proibidas de saírem das suas casas sem estarem acompanhadas pelo marido ou um outro familiar do sexo masculino. A maior parte destes direitos foram entretanto reconquistados, mas o país continua a ser um dos mais opressores do mundo para as mulheres.
As forças da NATO no Afeganistão sofreram entretanto ontem novas baixas, num ataque a tiro de um soldado renegado afegão contra dois militares das tropas internacionais, na província de Laghman. Vários incidentes deste género têm vindo a deteriorar a confiança entre os aliados quando se aproxima cada vez mais o prazo, em 2014, da retirada e passagem total da responsabilidade de segurança às forças afegãs.
A recorrência de ataques de militares e polícias afegãos contra as tropas internacionais (33 só neste ano, com um balanço de 42 mortos), fez com que o comando da NATO aumentasse as normas de segurança, incluindo a de os soldados terem sempre as suas armas carregadas dentro das bases.