Porto fluvial no Tejo ajudaria a retirar 10 mil camiões das estradas de Lisboa

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Há décadas que o estuário do Tejo ficou reduzido ao transporte de passageiros e ao tráfego marítimo do porto de Lisboa sara matos

Promotores defendem que a criação de um porto fluvial junto à plataforma logística da Castanheira do Ribatejo alavancará este projecto e permitirá uma importante redução das emissões de dióxido de carbono

A construção de um porto fluvial no Norte do concelho de Vila Franca de Xira (em Castanheira do Ribatejo) poderá retirar cerca de dez mil camiões das estradas da região de Lisboa logo no seu primeiro ano de funcionamento, sustenta um estudo da Companhia do Porto da Castanheira (CPC), empresa do grupo ETE (Empresa de Tráfego e Estiva) constituída há um ano para desenvolver este empreendimento.

Os promotores planeiam investir 19 milhões de euros e ter o porto a funcionar já em 2013. Depois do parecer favorável da câmara local, foi a assembleia municipal a aprovar, em Julho, por maioria, uma Declaração de Interesse Municipal, que permitirá à CPC solicitar a desafectação do espaço necessário das reservas agrícola e ecológica nacionais.

De acordo com o estudo da CPC, o porto da Castanheira, planeado para um terreno vizinho ao da Plataforma Logística de Lisboa Norte, a cerca de 40 quilómetros do porto de Lisboa, "terá a dupla função de servir de cais de carga e de descarga de contentores e mercadorias, bem como de parque de apoio à operação de movimentação de cargas". O documento prevê que, logo no primeiro ano de funcionamento, o porto absorva cerca de 2% do tráfego de mercadorias movimentado no porto de Lisboa. Serão, assim, cerca de dez mil contentores movimentados na Castanheira, para barcaças com baixo calado, que podem percorrer o estuário do Tejo depois de algumas obras de desassoreamento.

A ideia será fazer a ligação a navios que permaneçam ao largo de Lisboa e que não necessitarão, assim, de sobrecarregar o porto da capital. Ao mesmo tempo, as cargas e descargas feitas na Castanheira ficarão mais perto da origem ou destino das mercadorias.

Num horizonte de 30 anos de concessão, a CPC estima que, em 2042, será possível movimentar na Castanheira cerca de 68 mil contentores, retirando perto de 70 mil camiões das estradas dos concelhos de Lisboa, Loures e Vila Franca de Xira. A ideia do porto fluvial da Castanheira surgiu associada à plataforma logística, onde já foram investidos 50 milhões de euros em infra-estruturas e movimentações de terras, mas onde ainda não foi construída nenhuma nave, por falta de contratos de empresas interessadas. O Plano Director Municipal de Vila Franca prevê a criação de um cais fluvial na Castanheira e a Administração do Porto de Lisboa também o apoia.

No estudo concluído em Maio, a CPC afirma que o porto de Lisboa movimentou 363.280 contentores em 2011 e que o porto da Castanheira pode desempenhar um importante papel complementar.

Dióxido de carbono

Para o primeiro ano estudado (2013), poderá operar 6000 contentores cheios e 4000 vazios, prevendo-se um crescimento anual de 25% até 2016. Os 68 mil contentores estimados para 2042 gerarão, a confirmar-se a estimativa, uma redução de 2079 toneladas de emissões de CO2 (dióxido de carbono), porque o transporte fluvial produz, dizem os promotores, menos de um terço das emissões poluentes do tráfego rodoviário.

"Do ponto de vista ambiental e económico parece-me uma excelente solução", disse a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira na apresentação do projecto na assembleia municipal. João Machado, eleito do Bloco de Esquerda, quis saber se, depois dos problemas ambientais resultantes da ocupação de cem hectares de reserva ecológica pela plataforma logística, este projecto não vai acrescentar mais danos. "Sabemos que a plataforma logística não tem sido um sucesso. Põem-se dúvidas sobre qual será a rentabilidade deste projecto", sustentou, lembrando que ainda não há um estudo de impacte ambiental específico. "Será que as empresas que fazem este tráfego estarão disponíveis para o desviar para ali?", questionou.

Ventura Reis (CDU), presidente da Junta de Freguesia da Castanheira, reconheceu o interesse de retirar camiões das estradas, mas perguntou se não se tratará apenas de "um grande depósito de contentores".

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