Para partir não é preciso estar desempregado: Catarina Benthan

Partem aos milhares. Mais de metade tem menos de 29 anos, segundo o último relatório anual da OCDE. Alguns até tinham trabalho em Portugal

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jeffhurlow/Flickr

Catarina Benthan, 24 anos, Aveiro

Está a pensar no futuro do filho

Catarina e o companheiro estavam de malas aviadas para França, depois de um ano no Luxemburgo. Estiveram quase a desistir. Ele falara muito nisso: “A minha ideia era ir para Portugal, porque mal por mal estava no meu país, perto da minha família, mas sei que aquilo está mesmo mau e que temos um filho [de dois anos].”

Tinham saído de Aveiro a pensar no miúdo, no futuro que lhe queriam dar. Os dias pouco prometiam. Ele trabalhava numa empresa de desmantelamento de automóveis. Estava “farto daquilo”. Ela trabalhava por conta própria, como esteticista. “Tinha cada vez menos clientes, cada vez tinha de apertar mais. Se me pusesse por conta de outro, ia ganhar o ordenado mínimo. Não daria para as despesas que tínhamos.”

Têm um empréstimo à habitação para pagar – 500 euros por mês. Conduziam dois velhos carros – um bebia demasiado. Era preciso pagar infantário, pediatra, fraldas. A inquietação foi tomando conta da rapariga, de visual alternativo. “Se acontece qualquer coisa... Tínhamos dinheiro guardado, mas ia acabando...”

Uma cliente falou-lhe “maravilhas do Luxemburgo”. Prometeu ajudá-los encontrar trabalho. “Tinha muitos conhecimentos.” Livraram-se de um carro, que gastava muito. Deixaram o outro, “muito velhote”, para a família vender. Compraram uma carrinha de três lugares, encheram-na de roupas, sapatos, utensílios, fizeram-se à estrada. Instalaram-se em casa da filha da tal cliente que tanto a incentivara a vir. “Ela perdeu dias e dias connosco à procura de trabalho. Ao fim de três semanas, conseguimos.”

Catarina encaixou-se num cabeleireiro, o companheiro numa agência de trabalho temporário, “como ajudante de obras”. Trabalhou um mês numa obra, um mês noutra. Trabalhou 15 dias num sítio, quatro meses noutro. Desde 16 de Dezembro, nada. O excesso de oferta de mão-de-obra não qualificada começava a sentir-se. “Agora, exigem diplomas, francês. Quando chegámos, em Março de 2011, não exigiam.”

Em Maio, decidiram trocar Esch-sur-Alzette, no Sul do Luxemburgo, por Toulon, na Sul de França, região Provence-Alpes-Côte d'Azur. Um amigo de infância dele arranjara-lhe trabalho na empresa de pladur que montara. E ela havia de se desenrascar. “Eu agora tenho de ir à procura de alguma coisa para mim, mas, como é uma zona de praias, estética deve haver.”

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