Mulheres iranianas impedidas de frequentar 77 cursos universitários

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Damir Sagolj/Reuters

As universidades iranianas baniram o acesso das mulheres a 77 cursos superiores no próximo ano lectivo. As medidas diferem consoante a instituição em causa, mas Engenharia, Química e Contabilidade estão entre as áreas com mais restrições. De acordo com a imprensa iraniana, estas áreas não garantem emprego às mulheres depois do curso.

Segundo a agência de notícias semi-oficial do Irão Mher, as medidas entraram em vigor quando os resultados dos exames de acesso à universidade foram divulgados. Apesar de as restrições não terem sido comunicadas pelas universidades, estas aplicam-se a partir de 23 de Setembro. Registaram-se 935.000 candidaturas à universidade para o próximo ano lectivo, adianta a Mher.

Nas 36 universidades estatais iranianas foi impedido o acesso das mulheres a 77 áreas de estudo. Segundo o site de notícias iraniano Rooz Online, Contabilidade, Engenharia, Química, Gestão e restauro de edifícios históricos são algumas das áreas que só aceitarão a inscrição de homens. A Universidade de Teerão não permitirá que mulheres estudem disciplinas relacionadas com recursos naturais, florestas e matemática. O estudo do petróleo será igualmente uma área exclusiva para homens.

“Algumas áreas de estudo não se adequam muito à natureza das mulheres, como maquinaria agrícola ou mineração, devido ao trabalho pesado que implicam”, disse um representante do Ministério da Ciência ao mesmo site. “Experiências anteriores mostram que as mulheres não se tornam profissionalmente activas nestas áreas depois de terem sido admitidas a estudar estes assuntos ou mesmo depois de concluírem a universidade. Isto conduz ao desemprego”, acrescentou.

Às mulheres são reservadas áreas como educação e ciência politica. A medida é implementada por cada universidade, sendo que nalguns casos, as raparigas são obrigadas a mudar de província para estudarem certas áreas.

Numa carta dirigida à comissão de igualdade de género da Organização das Nações Unidas (ONU), a iraniana Shirin Ebadi, advogada, activista e vencedora do prémio Nobel da Paz em 2003, criticou a actuação do governo. “Estão a empurrar [as mulheres] para dentro de casa na tentativa que elas abandonem os seus objectivos e deixem o governo sozinho com as suas políticas erradas”, escreveu Ebadi.

No Irão, 60% dos estudantes universitários são mulheres. Um estudo da Unesco aponta que, em 2010, as mulheres representavam quase 70% dos licenciados em Ciências, mais de 50% em Gestão e Direito e mais de 25% em Engenharia e Construção.

Em Julho do ano passado, o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, criticou a intenção do ministro da Investigação Cientifica e da Tecnologia, Kamran Daneshjou, de separar os estudantes universitários por género. “Sabe-se que nalgumas universidades, as salas de aula estão a ser segregadas [por género]. São precisas medidas urgentes para evitar estas acções antipedagógicas”, afirmou Ahmadinejad

A medida agora introduzida poderá, deste modo, constituir uma resposta aos entraves colocados à segregação por género nas universidades.

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