Rendeiros devolvem terras à Herdade dos Machados

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Herdade já foi a segunda maior exploração agrícola do Alentejo Gonçalo Português

Reversão de terras acrescenta mais 205 hectares à herdade afectada pela reforma de Sá Carneiro.

Desde dia 9 de Agosto reverteram para os titulares da Casa Agrícola Santos Jorge, entidade arrendatária da Herdade dos Machados localizada no concelho de Moura, mais 205 hectares de terras dos cerca de 3000 hectares que tinham sido repartidos por 94 funcionários da exploração em 1980, durante o governo do então primeiro-ministro Sá Carneiro. Ao todo, a herdade é composta por 6101 hectares.

O pedido de reversão foi apresentado pelos herdeiros da Casa Agrícola Santos Jorge, Nuno Tristão Neves e Arnalda Tavares Costa e surge na sequência dos vários acordos que têm sido celebrados com actuais rendeiros e foi publicado em várias edições doDiário da República entre o dia 9 e o dia 20 de Agosto.

Jorge Costa, administrador e um dos titulares da Herdade dos Machados, explicou ao PÚBLICO que "tem havido uma certa abertura" por parte dos rendeiros que "pela idade avançada ou por razões de natureza económica" aceitam reverter os lotes de terras que lhes foram arrendados em 1980. Tem sido um processo moroso e "vai continuar a sê-lo" reconhece o administrador da Casa Agrícola Santos Jorge, frisando que dos hectares que foram distribuídos pelos rendeiros "cerca de 2700 hectares continuam na sua posse".

Jorge Costa não desanima e diz que "quem começou a explorar de novo na Herdade dos Machados com 342 hectares em 1980" quando da partilha da exploração tem de continuar a apostar no diálogo com os rendeiros que ainda persistem "até conseguir voltar a ter a terra que já foi nossa".

As reversões de terra que ocorreram na última semana estabelecem uma nova relação com os rendeiros. Estes declararam que "não pretendem exercer o direito" que mantinham com o Estado e passam a exercê-lo com a Casa Agrícola Santos Jorge, entidade que se comprometeu a salvaguardar os direitos que os rendeiros mantinham. Apesar do relacionamento entre a Casa Agrícola e os rendeiros com quem o Governo de Sá Carneiro estabeleceu contrato até 2019 ter melhorado os efeitos da controversa decisão tomada pelo fundador do PSD, colocaram em causa até ao presente a viabilidade económica da que, antes da sua ocupação em 1976, era considerada a segunda maior exploração agrícola do Alentejo e a mais bem sucedida.

Para contrapor "à Reforma Agrária dos comunistas", expressão que foi atribuída a Sá Carneiro, este ordenou o fraccionamento da herdade em 338 lotes de terreno para repartir por quem trabalhava na exploração. Todos tiveram direito a 30 hectares de terra (10 de olival, 15 para cultura de cereais e quatro de figueiral) doados "em regime de posse útil" conforme foi garantido por Sá Carneiro.

O olival que ainda resiste ma Herdade dos Machados chegou a ser o maior da Península Ibérica e produzia uma média de 300 mil litros de azeite por ano. Hoje necessita de urgentes trabalhos de recuperação e renovação.

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