Vice-campeões mundiais sub-20 deram um pequeno passo em frente na carreira

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Sérgio Oliveira, uma das apostas de Ilídio Vale na selecção, joga actualmente na equipa B do FC Porto Foto: Luis Robayo/AFP

Foi exactamente há um ano que a selecção de sub-20 chegou à final do Mundial na Colômbia e quase seguiu as pisadas da “Geração de Ouro”, de João Pinto, Figo e companhia. O antes e depois da competição não deixa dúvidas: a maioria das carreiras dos jogadores subiu um patamar. Algo que não surpreende Ilídio Vale, o seleccionador que liderou aquela que apelidou de “geração coragem”.

“A maioria são jogadores ambiciosos e que gostam de trabalhar muito. Por essa razão, se estiverem bem enquadrados desportivamente, estou seguro de que se vão tornar mais competentes. Acredito que querem muito vencer e fazer parte do grupo de jogadores de excelência”, disse em declarações ao PÚBLICO.

A caminhada até à final levou à irresistível comparação com a selecção de Carlos Queiroz, que venceu os mundiais da categoria em 1989 (Riade, Arábia Saudita) e 1991 (Lisboa). A herança era pesada, mas só serviu de exemplo: “Quem falava na ‘Geração de Ouro’ era a comunicação social. Nós aproveitámos o exemplo dessa geração extraordinária de jogadores e das suas conquistas. Sempre quis que os meus jogadores nunca perdessem a sua identidade e personalidade. Queria uma equipa com código próprio e focada na sua missão.”

Ilídio Vale recordou que, à partida para a Colômbia, estavam convictos de que iam fazer “um grande Mundial”: “Partimos com a consciência de ter desenvolvido um trabalho de grande qualidade na preparação. Sentia a equipa e os jogadores unidos, com um forte espírito de conquista. Estava seguro de que liderava um conjunto de jogadores mentalmente fortes e de qualidade, ambiciosos e de grande carácter, que podiam vencer qualquer rival.”

Passados 365 dias, dos 21 jogadores convocados por Ilídio Vale, sete estão a actuar na I Liga: Nuno Reis (Olhanense), Cédric (Sporting), Ricardo Dias (Beira-Mar), Baldé (V. Guimarães), Caetano (Paços Ferreira), Serginho (Beira-Mar) e Rafael Lopes (Moreirense). Os outros despertaram o interesse de clubes estrangeiros (casos de Saná, Danilo ou Mário Rui) ou estão a actuar nas equipas B.

“Continuo a considerar [as equipas B] como a chave de todo o processo de formação do jogador de excelência. Estive na génese do projecto e foi com muito desagrado que assisti ao seu desaparecimento. Sempre achei que essa decisão seria um dos maiores erros que o futebol português iria cometer. O ressurgimento parece-me uma excelente decisão, contribuindo para suprir um vazio competitivo e evoluindo para uma lógica sem fracturas no processo de formação do jogador”, analisa o técnico.

Mas não foram só os portugueses a dar nas vistas na Colômbia. O Brasil, campeão mundial, mereceu o aplauso da crítica e conseguiu elevar os principais valores a um outro patamar. Danilo e Alex Sandro são vistos como o presente e o futuro do FC Porto, Gabriel assinou pelo AC Milan, Juan e Philippe Coutinho são jogadores do Inter, Oscar acabou de ser contratado pelo Chelsea, por 32 milhões de euros. Porque é que o jogador português não teve o mesmo impacto? “O Mundial revelou jogadores de enorme qualidade, entre eles alguns portugueses que mereceram distinção especial. No entanto, preocupa-me a tardia e, por vezes, pouca maturidade competitiva do jovem jogador português. Tal como a qualidade da estimulação mental e comportamental para visar a excelência”, explica Ilídio Vale.

A débil aposta dos “grandes” no produto nacional está cada vez mais vincada e pode ajudar a explicar o fenómeno. Ora vejamos: na primeira jornada, o Benfica jogou frente ao Sp. Braga sem qualquer português no “onze”, o FC Porto começou com dois (Miguel Lopes e João Moutinho) e o Sporting apresentou três (Rui Patrício, Cédric e Adrien).

“Preocupa-me a falta de qualidade de muitos desses jogadores [estrangeiros] que, de certo modo, condicionam a evolução do jovem jogador português”, alerta o técnico. Na última convocatória, o seleccionador Rui Jorge apostou em seis jogadores que estiveram na Colômbia: Mika, Luís Martins, Sérgio Oliveira, Danilo, Cédric e Nuno Reis. Nélson Oliveira, esse, já voa mais alto. O avançado estreou-se a titular pela selecção principal frente ao Panamá e coroou a exibição com um golo.


A caminhada

Portugal só sofreu golos na final

Portugal estava inserido no Grupo B, juntamente com Uruguai, Camarões e Nova Zelândia. Na estreia, a selecção nacional empatou, sem golos, e Sérgio Oliveira foi expulso a dez minutos do fim. Na segunda partida, frente aos africanos, um golo solitário de Nélson Oliveira (19’) bastou para conquistar os três pontos. O derradeiro jogo da fase de grupos, contra a Nova Zelândia, também terminou 1-0, com um golo de Mário Rui.
Nos “oitavos”, Portugal bateu a Guatemala, com um golo de Nélson Oliveira, desta vez de grande penalidade (7’).
Para os “quartos” estava reservado o desafio mais difícil até então: a Argentina. Depois de 120 minutos sem golos, o jogo foi resolvido nos penáltis (5-4). Mika foi o herói.
Nas meias-finais o adversário foi a França. Portugal entrou praticamente a vencer e Danilo foi o homem do jogo. O médio marcou o primeiro golo (9’) e sofreu o penálti que permitiu a Nélson Oliveira fazer o 2-0 (40’).
A final do Campeonato do Mundo foi disputada frente ao Brasil, que começou logo a vencer aos cinco minutos. Portugal reagiu bem e empatou por Alex (9’), que deu o melhor seguimento a uma jogada de Nélson Oliveira. Aos 59 minutos, o avançado do Benfica deu a volta ao marcador. Mais tarde, um golo de Oscar (78’) empatou o jogo e forçou o prolongamento. Portugal perdeu gás e Oscar voltou a marcar (111’), num lance feliz que mais parecia um cruzamento.
“Disputámos um Mundial com muita lealdade e enorme ambição. Merecíamos ser campeões, mas ganhou uma grande equipa, numa final intensa entre as duas melhores equipas do mundo”. Foi com estas palavras que o treinador Ilídio Vale descreveu o percurso da sua selecção.

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