Depor é a equipa mais portuguesa
A contratação de Simão Sabrosa pelo Espanyol, anunciada ontem pelo clube catalão, junta mais um futebolista ao contingente nacional na Liga espanhola. Simão terá a companhia de Rui Fonte no Espanyol, mas este continua longe do Deportivo, o clube onde mais portugueses vão jogar. No total são sete, sendo que três (Zé Castro, Bruno Gama e Diogo Salomão) já estavam na formação galega no ano passado. As boas relações do empresário Jorge Mendes com o presidente Augusto César Lendoiro levaram Roderick Miranda e Nélson Oliveira (emprestados pelo Benfica), Pizzi (vinculado ao Sp. Braga) e André Santos (cedido pelo Sporting) para o Depor. O Real Madrid mantém os quatro portugueses que já tinha - a que se junta a equipa técnica -, enquanto João Pereira (Valência) e Salvador Agra (Bétis de Sevilha) são os mais recentes emigrantes portugueses no futebol espanhol. Tiago Pimentel

Real Madrid e Barcelona iniciam campeonato à parte na Liga espanhola

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A Liga espanhola promete ser pela quinta temporada consecutiva uma luta privada entre Real e Barcelona. Josep Lago/AFP (arquivo)

José Mourinho garantiu no início deste mês que qualquer equipa inglesa, italiana ou alemã ficaria em terceiro lugar a jogar num campeonato onde competissem o Real Madrid e o Barcelona. Um vaticínio que não terá unanimidade fora de Espanha, mas que não oferece dúvidas aos restantes 18 clubes da Liga espanhola. Estes, à partida, admitem estar afastados da luta pelos dois primeiros lugares de um campeonato que arranca este fim-de-semana. É que o desnível competitivo tornou-se esmagador nas últimas quatro temporadas e a culpa será do desequilíbrio na distribuição das receitas televisivas.

O futebol espanhol vive momentos gloriosos a nível internacional. A selecção acaba de alcançar um inédito "triplete", com a conquista consecutiva de dois Europeus e um Mundial. Em simultâneo, os seus clubes mais representativos construíram duas das melhores equipas de todos os tempos. Os seus futebolistas dominaram por completo o pódio do melhor jogador do mundo entre 2009 e 2011 (o prémio relativo à época passada ainda não foi atribuído).

Os plantéis de Real e Barça são o espelho do poder financeiro dos dois "gigantes" (e o termo nunca terá sido tão bem aplicado), talvez os emblemas mais poderosos da história do futebol. Em 2012, o Real Madrid liderou a lista dos clubes mais ricos do mundo pelo sétimo ano consecutivo, com uma receita de 480 milhões de euros, segundo as contas da consultora Deloitte. O Barcelona ficou logo abaixo, com 451 milhões, ambos mantendo a posição dos dois anos anteriores.

Estes rendimentos extraordinários permitem-lhes acesso a qualquer mercado, mesmo quando estão gravados no preçário 94 milhões de euros, como aconteceu com a transferência de Cristiano Ronaldo do Manchester United. E, a prazo, esta "loucura" até se transformou num bom negócio. Com CR7 e Messi na mesma competição, a audiência das duas equipas passou efectivamente para o nível planetário. Tal reflecte-se nas receitas, nomeadamente televisivas.

O sucesso destas duas equipas tem contagiado a selecção, que é quase exclusivamente do Barcelona e Real Madrid. Do "onze" habitualmente titular, apenas David Silva, do Manchester City, ainda não foi arregimentado (mas continua a alimentar um "namoro" com os madridistas).

O problema é que o conto de fadas em que vive o futebol espanhol não é extensivo a todos os seus protagonistas, nomeadamente aos restantes clubes. A estes sobra-lhes a pouco excitante luta pelo terceiro lugar da competição, pelos restos dos lugares "europeus" ou pela manutenção. Muito pouco para gerar riqueza e para manter os seus melhores talentos.

Nas últimas três temporadas, o Valência terminou a Liga no terceiro lugar. Em 2011-12, ficou a 39 pontos do campeão Real Madrid e a 30 do Barcelona. Na temporada anterior, teve menos 25 pontos que o vencedor Barcelona e 21 que a equipa da capital. Um ano antes, foram 28 os pontos de diferente para os catalães e 25 para o Real. Um pouco mais de luta deu o Sevilha em 2008-09, encerrando as contas a 17 pontos do Barcelona e a "apenas" oito dos "brancos" da capital.

16 clubes devem ao Fisco

A maioria está revoltada com o papel de figurante neste blockbuster de dimensões globais e acusam madridistas e catalães de estarem a destruir a concorrência e, consequentemente, a matar o campeonato. Para eles, o crescente desnivelamento deve-se à falta de solidariedade na distribuição das receitas televisivas, que em Espanha, tal como em Portugal, são negociadas separadamente pelos clubes. Como tal, Real Madrid e Barcelona recebem aproximadamente 140 milhões de euros por temporada cada um (ficando de fora as verbas das transmissões televisivas da Liga dos Campeões), contra 42 milhões do Valência e Atlético de Madrid, os terceiros mais bem pagos. São praticamente dois "Ronaldos" por época de diferença e sempre a acumular.

Com o objectivo de centralizar na Liga a venda em bloco dos direitos das transmissões televisivas, para uma redistribuição mais equilibrada (protestando ao mesmo tempo contra os horários dos jogos impostos pela TV, que obriga algumas equipas a iniciar partidas às 23h), 13 clubes do campeonato principal ameaçaram nos últimos dias atrasar o arranque da prova, mas acabaram por recuar já na quinta-feira, após mediação do Governo.

Uma intervenção fundamental, que terá feito valer alguns argumentos bem convincentes para a maioria dos emblemas "rebeldes". É que 16 dos 20 clubes da divisão principal têm dívidas ao Fisco, num total de 490 milhões de euros. O Atlético de Madrid representa um quarto desta maquia, com 120 milhões, seguindo-se o Deportivo, com 90. Só ficam de fora os bascos do Athletic de Bilbao e Real Sociedad e... claro, o Real Madrid e Barcelona.

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