O rock de massas chegou a Paredes de Coura com os Kasabian

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Foto: Paulo Pimenta

Quando Tom Meighan abandona o palco, depois de uma pequena versão a cappella de “She loves you”, o clássico dos Beatles, pôs-se um ponto final no primeiro concerto de massas de Paredes de Coura 2012 e que teve o efeito que um concerto de massas é suposto ter: devoção colectiva.

Foi o que conseguiram os Kasabian na noite de quinta-feira. Até então, o festival estava a ser dominado pelos grupos menos óbvios (tUnE-yArDs, Sleigh Bells). Esta sexta-feira, última noite de festival, tem um vencedor antecipado: os Ornatos Violeta, regressados aos palcos dez anos depois do fim.

Com uma cara que parece a fusão das de Damon Albarn e Liam Gallagher, dir-se-ia que Tom Meighan estava fadado para ser uma estrela brit-pop.

Mais a sério: os Kasabian revisitam parte da história da música popular britânica (fazem canções que lembram nomes como Oasis e Stone Roses e, para além dos Beatles, evocaram Fatboy Slim, integrando Praise You em LSF (Lost Souls Forever)). Devolvem temas pop-rock que enchem naturalmente estádios ou um anfiteatro natural como o de Paredes de Coura.

Antes, Anna Calvi mostrara credenciais de nova princesa da música britânica. Comparam-na a PJ Harvey (o que não é descabido, nomeadamente em canções como Jezebel), mas Calvi segue caminhos dela. A forma como a inglesa toca guitarra é visceral, quase brutal. A maneira como canta aproxima-a da beleza do canto lírico (calma: isto continua a ser rock). Visitou as canções do único álbum, com Desire a receber a esperada ovação reforçada, mas também fez versões: levou Surrender, de Elvis Presley, para territórios de negrume e transformou em sua Wolf Like Me, dos TV On The Radio.

A milhas de Anna Calvi, que não embarcou em manobras de simpatia, Erlend Øye e os seus The Whitest Boy Alive ofereceram um concerto que teve tanto de entretenimento como de vazio musical. O norueguês tem um talento natural para agradar a multidões (já demonstrado em 2011 no mesmo palco com os Kings of Convenience), mas nos The Whitest Boy Alive limita-se a isso, desprezando a construção de boas canções. Ficam-se por cantigas para lounges, música de dança preguiçosa ou pop sem densidade. Øye fez com que o povo cantasse canções que nunca ouvira na vida, se baixasse ou dançasse, mas esteve longe de repetir o feito dos Kings of Convenience um ano antes.

Os Of Montreal viram o dia tornar-se noite junto ao rio Coura. E forneceram a banda sonora para o momento: canções que bebem da pose do glam (“Plastis Wafers”), das melodias perfeitas da new wave, da ciência das ancas do funk, tudo devidamente filtrado pela mais indie das atitudes: “vou fazer o que eu quero”. Foram felizes quase sempre, mas foram mais do que isso em “The Past is a Grotesque Animal”, canção extraterrestre no mundo extraterrestre da banda de Kevin Barnes.

Também excitantes foram os Gang Gang Dance, acompanhados por uma estranha personagem que tem acompanhado o grupo em palco e que não tem nenhuma função aparente que não apenas a de lá estar. Brilharam em “Glass Jar”, maravilha de sintetizadores a entrar devagarinho, e num tema novo, referido no alinhamento como Lebanon, que inscreve novas geografias na música sem fronteiras dos americanos.

No palco Vodafone FM, houve concertos de School of Seven Bells (pop com múltiplas camadas de som), o rock redneck dos Deer Tick e os pouco entusiasmantes I Like Trains e The Wave Pictures.

Notícia corrigida às 10h21. Altera nome do rio em Paredes de Coura de Tabuão para Coura
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