E a Espanha conseguiu perder com o Brasil no jogo que ninguém queria ganhar

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A Espanha foi mais forte do que o Brasil, mas só até ao terceiro período SERGIO PEREZ/reuters

Uma derrota era o caminho mais óbvio para evitar os EUA. E foi o resultado da Espanha frente ao Brasil. Quem jogou para perder?

Era um jogo que ninguém queria vencer. Mas também era um jogo que ninguém admitia não querer ganhar. O Espanha-Brasil de ontem do torneio olímpico de basquetebol adquiriu um significado especial porque o vencedor ficaria com a certeza de que, no caso de vencer a partida dos quartos-de-final, poderá enfrentar o temível Team USA nas meias-finais (partindo do pressuposto que os EUA terminam no primeiro lugar do Grupo A, no qual cumpriram ontem o último compromisso, frente à Argentina, num jogo que terminou após a hora de fecho da presente edição). Ao derrotado caberia a graça de evitar os norte-americanos, sabendo que a única hipótese de um cruzamento com Kobe Bryant, LeBron James e companhia seria na final.

De um e outro lado, sucederam-se as afirmações de repúdio quanto a uma eventual derrota propositada. "Cada um escolhe a sua ética, os seus princípios e os seus valores. Estou há muitos anos no basquetebol e nem me passa pela cabeça [perder de propósito]. Não entra nos meus valores algo que não seja a luta por ganhar, não o concebo", afirmou o treinador de Espanha, o italiano Sergio Scariolo. "Se eu pedir para os jogadores perderem hoje, como amanhã vou pedir para eles ganharem? Se você quer ser o campeão, tem que ter mentalidade ganhadora", replicou o técnico da selecção brasileira, o argentino Rubén Magnano.

Afirmações compreensíveis nuns Jogos Olímpicos em que já foram desqualificadas oito jogadoras (quatro pares) acusadas de "não terem feito tudo o que lhes era possível para ganhar" as partidas do torneio de badminton. Parecia uma reedição de um tema muito discutido este Verão, durante o Campeonato Europeu: na última jornada da fase de grupos, um empate 2-2 entre Espanha e Croácia teria apurado as duas equipas, deixando a Itália de fora da competição. O biscotto, como lhe chamavam os italianos, acabou por não suceder e a squadra azzurra atingiu a final do Euro 2012. Onde veio a encontrar... a Espanha, que renovaria o título de campeã europeia.

Desta vez, porém, foi diferente. A Espanha teve o comando total da partida na fase inicial. Os espanhóis foram melhores no primeiro período (26-17) e chegaram ao intervalo com seis pontos de vantagem (44-38). Os irmãos Pau e Marc Gasol comandavam a equipa orientada por Scariolo. O terceiro período não trouxe novidades à partida: a selecção espanhola continuou por cima e, com um parcial de 22-19, liderava por nove pontos (66-57) à entrada para os últimos dez minutos de jogo. Foi então que surgiu o melhor Brasil (ou a pior Espanha?). O rumo do encontro mudou quando faltavam 4m17s para o final da partida: um lançamento "triplo" de Leandrinho Barbosa colocou os brasileiros na frente do marcador (75-73). O comando já não fugiria à equipa orientada por Rubén Magnano, que se impôs por 88-82. "Uma derrota que abre caminho", escrevia o diário desportivo espanhol Marca. O As falava em "derrota doce".

"Não pensámos [em evitar os EUA]. Essa não é a nossa maneira de ser, jogamos sempre para ganhar. Sempre", disse no final o espanhol Juan Manuel Calderon, à agência AFP. Para a história fica o resultado. E a recordação do caso dos Jogos Paralímpicos de Sydney, em 2000: a Espanha viu ser-lhe retirado o ouro em basquetebol quando se descobriu que 10 em 12 atletas tinham fingido uma deficiência.

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